Biografias

- SEÇÃO EM CONSTRUÇÃO -

Sumário

Prefeitos E Intendentes
  • Adolfo Brand (1896 – 1901; 1903 – 1905)
  • Amadeu Martelli (1933)
  • Anastácio Agria Filho (1947 – Interventor)
  • Antonio Martins Sampaio (1923 – 1926; 1927 – 1928)
  • Antonio Pimenta de Almeida Jr. (1912 – 1915)
  • Antonio Pires de Almeida (Dr.) (1952 – 1955)
  • Aquiles Jorge de Oliviera (1936 Vice)
  • Benedito Aranha Júnior (1960 – 1963)
  • Benedito José Diana (1964 – 1968; 1973 – 1976)
  • Christovam da Gama (Dr.) (1908)
  • Cláudio Maffei (2005 – 2008; 2009 - 2012)
  • Djalma Honorato de Arruda (1906 – 1907; 1909; 1911 – Vice)
  • Domingos Albiero (1947 – Transição Eleitoral)
  • Erval Steiner (1989 – 1992; 2001 – 2004)
  • Eugênio Motta (Cel.) (1915 – 1922; 1934 – 1938)
  • Felício Castelucci (1934)
  • Gabriel Antonio de Carvalho (1930 – 1932)
  • Genésio Leandro Vieira (1983 – 1988)
  • João Portela Sobrinho (1938 – 1942)
  • Joaquim Manoel de Arruda (1906)
  • José Esmédio Paes de Almeida (1887 – 1895)
  • José Gibi (1922 – Vice)
  • José Martins Bastos (1926 – 1927 Vice; 1928 – 1929 Vice; 1942)
  • José Paes da Motta (1942 – 1945)
  • Lauro Maurino (1945 – 1947; 1948 – 1951; 1956 – 1959)
  • Leonardo Marchesoni Rogado (1997 – 2000)
  • Levi Rodrigues Vieira ( 2013- 2016)
  • Luiz Alcalá (1977 – 1982)
  • Luiz Antonio de Carvalho (Cel.) (1883 – 1886)
  • Luiz Antonio de Carvalho Netto (1993 – 1996)
  • Manoel Leandro da Rocha (1910 – 1911)
  • Matias Fernandes de Camargo (1902)
  • Sérgio Bettiol (1969 – 1972)

Pessoas Que Emprestaram Seus Nomes A Locais Públicos
Artistas Locais
Esportistas Locais



Prefeitos E Intendentes

Adolfo Brand (1896 – 1901; 1903 – 1905)


Amadeu Martelli (1933)



Anastácio Agria Filho (1947 – Interventor)

Antonio Martins Sampaio (1923 – 1926; 1927 – 1928)



Antonio Pimenta de Almeida Jr. (1912 – 1915)



Antonio Pires de Almeida (Dr.) (1952 – 1955)


(Extraído da coluna Acervo, da revista Bem Porto)

(Extraído da coluna Acervo, da revista Bem Porto)



Cláudio Maffei (2005 – 2008; 2009 - 2012)

Entrevista do prefeito eleito Claudio Maffei esgota edição de outubro
Publicado na Revista Viu!
(Extraído de: http://www.revistaviu.com.br/noticias/entrevista-do-prefeito-eleito-claudio-maffei-esgota-edicao-de-outubro/20041111000413_G_809)

O prefeito eleito Cláudio Maffei já entrou para a história da política portofelicense. Independente de como será seu governo, Maffei agora integra a seleta galeria de prefeitos da cidade. Mas vem com um diferencial, de idéias e propostas, que ele afirma estarem mais amadurecidas desde que tentou ser prefeito pela primeira vez, em 1988. A acirrada disputa eleitoral desde ano é outro marco histórico, dando novas cartas no jogo político. Maffei é o coringa, eleito com 150 votos a mais do que o segundo colocado.

Formado em História, o professor de 38 anos, um dos fundadores do PT portofelicense, explica sua eleição com uma paráfrase do presidente Lula: "a esperança venceu o medo". Medo de quê? Ele responde: do MST, da volta do ex-prefeito Léo Rogado, conforme a panfletagem distribuída por seus adversários políticos. "Quando saiu a pesquisa da Tribuna, eles se desesperaram. No desespero, cometeram falhas", alfineta o prefeito eleito.

Passado o calor da campanha, Maffei ergue a bandeira da mudança e se prepara para assumir o cargo e as expectativas de uma cidade toda. Sua estrela precisa brilhar como nunca para mostrar por que a esperança deve ser maior que o medo.


O que significa essa vitória apertada, por 150 votos, na questão da confiabilidade e representatividade?

Tenho muito respeito pelos meus oponentes, tanto o professor Erval, como Cássia e Dito Mâncio. Foram adversários à altura. Tivemos um combate inclusive com golpes não tão limpos. Mas tudo bem. Acho que isso é coisa de campanha mesmo e não da política. Política foi o que fizemos com uma campanha limpa, sem xingamentos, sem promessas. Na questão da representatividade, temos 40% de pessoas que acreditaram em nossa proposta. Acredito que, novamente, a esperança venceu o medo. Porque criou-se mesmo um clima de terror nas pessoas e teve muita gente que não votou na proposta de mudança porque ficou com medo dos boatos. Mas tenho certeza que nesses quatro anos vamos conquistar as pessoas.


Nesses boatos se inclui também a questão da panfletagem?

Sim, teve três ou quatro jogados por aí a respeito da minha campanha e da minha pessoa. Havia nas repartições públicas as pessoas comentando certas coisas, provocação nas filas no dia da votação. Mas fomos maiores que tudo isso. Ganhamos de forma honrosa e honesta, o que faz a vitória ser ainda maior, embora tenha sido por 150 votos.


Um dos panfletos fazia associação de sua imagem com Léo Rogado. Qual é a sua ligação com o ex-prefeito?

Em 1996, não coligamos, mas mantivemos um apoio crítico ao Léo, porque achamos que ir contra ele em algumas questões seria jogar contra Porto Feliz. Na Câmara, nunca fui líder do governo Léo e, junto com o Padre Chico, fizemos o maior número de requerimentos. Não é porque tínhamos um apoio crítico que deixamos de fiscalizar. Se fosse para eu apoiar o Léo como foi colocado na campanha, eu nem tinha saído candidato em 2000.


Hoje, passado todo esse envolvimento de campanha, qual a avaliação que você faz realmente do governo Léo?

Acho que foi um governo razoável, honesto, que pensava na população. Ele pecou muito na questão de não mostrar o que fez. Ele é uma pessoa excepcional, que sofreu muito aqui em Porto Feliz. Muito do que fizeram durante a nossa campanha, como a panfletagem, Léo sofreu na administração.


Outra tentativa na campanha foi de associação do Maffei ao MST. Qual é a sua ligação com esse movimento?

Tanto como professor e político, sempre apoiei a reforma agrária e isso não é novidade. Mas também sempre apoiei a paz. No momento em que houve ocupações de terra em Porto Feliz, sempre estive acompanhando tanto do lado da população quanto dos ocupantes. Enquanto os outros vereadores estavam escondidos, eu estava lá junto à polícia e aos integrantes do movimento social, tentando manter a paz. E em nenhum momento, ao contrário do que disseram, eles ameaçaram a paz de Porto Feliz.


Como é que você recebeu tantas críticas durante a campanha, inclusive algumas de cunho pessoal?

Acho que foi desespero. Quando saiu a pesquisa da Tribuna, daí desesperou e valia bater da canela para cima.


Esse foi o pior momento da campanha?

Não, o pior momento foi a contagem dos votos (risos). Quando comecei a receber as críticas dos adversários, fiquei tranqüilo, porque percebi com o desespero deles que estávamos na frente. Comecei a notar isso no primeiro debate e vi que estávamos na frente.


Em algum momento você pensou em mudar de estratégia, até mesmo para se defender, e tomar uma postura mais agressiva?

Em nenhum momento. Mas foi tranqüilo. É isso que queríamos e no desespero deles, cometeram grandes falhas. Uma das grandes falhas da Cássia, por exemplo, foi ter saído do debate. Acho que ela perdeu muito ali.


A Cássia sempre foi sua principal adversária na campanha?

Até um certo ponto, foi. Acredito que depois do segundo debate é que isso começou a mudar. Antes, chegou uma hora em que estávamos empatados em 28, % . Depois do debate, ela caiu.


Em uma semana você tinha mais de 10 pontos de vantagem em relação ao Erval. Na semana seguinte, mudou. Qual a análise que você faz da rápida subida dele em um curto espaço de tempo?

Um dos fatores foi o medo das pessoas. A campanha de bater no Maffei através do MST e associação com Dr. Léo, a pressão nos funcionários, a promessa de benesses, fez com que o atual prefeito subisse nas pesquisas.


Sua eleição muda o cenário político da cidade também?

O Partido dos Trabalhadores surge agora como uma liderança muito forte na sociedade portofelicense. Essa vitória de toda a coligação "Pra Mudar Porto Feliz" foi muito importante, porque somos a única prefeitura do PT da região de Sorocaba. Logo, vamos ser uma vitrine para o partido e teremos apoio dos deputados, senadores, ministros. Vai ser muito importante o sucesso do PT em Porto Feliz para a estratégia regional e até estadual. Porto Feliz vai ser privilegiada.


Longe do entusiasmo da campanha, como é que você imagina Porto Feliz daqui a quatro anos em termos bem reais?

Vamos ter uma escola profissionalizante, vamos ter uma cidade muito mais bonita, as entradas mais arrumadas, asfalto na maioria dos bairros, com distrito industrial realmente capaz de absorver a mão-de-obra de Porto Feliz. Acho que vamos ter uma arrecadação muito maior, com o desenvolvimento das potencialidades através da duplicação da Rondon, passagem do gasoduto e os investidores que vamos buscar, inclusive na área de saúde. Mesmo estando fora do poder público já estamos buscando esses investidores.


Qual é a sua idéia para o Distrito Industrial do Jardim Vante?

Esta área vai estar interligada com a Mário Covas e junto com a duplicação da Rondon. O atual prefeito diz que viriam 32 indústrias para o Distrito Industrial. Espero que realmente ele instale essas empresas, porque acho que é importante para Porto Feliz.. Quero que o professor Erval feche o seu governo com chave de ouro. Acho que ele vai sair "nos braços do povo", assim como nós vamos entrar.


Qual será o seu principal desafio como prefeito?

Acho que em todas as áreas. O atual momento que Porto Feliz passa, a necessidade de mudança e a esperança da população, vai fazer com que em todas as frentes a gente encontre um imenso trabalho. Quanto à Câmara, estou muito tranquilo, porque acho que todos os vereadores vão estar apostando no PPF, no Partido de Porto Feliz.


O que você achou dessa composição da Câmara?

Achei ótima, uma das melhores dos últimos tempos. Conhecendo, porque já estive lá dentro, acho que houve um salto de qualidade muito grande. Alguns até foram adversários de campanha, mas tenho certeza que nenhum deles vai ser adversário de Porto Feliz. A Câmara pode contar com meu total apoio e respeito.


Uma das expectativas das pessoas é como é que você vai compor sua equipe executiva. Como será isso?

Vamos compor com pessoas competentes, a partir de um grupo de trabalho que vai elaborar essa transição. Não necessariamente precisará ter filiação partidária, como grande parte da minha coordenação de campanha também não tinha e nem eram petistas. Não vamos colocar "os companheiros do PT", como disse alguém, mas sim pessoas competentes, que vão fazer a diferença. Para evitar especulação, vamos dar esses nomes só no final do ano, que vão sair dessa equipe de trabalho.


Quem é essa equipe?

Temos cerca de 250 nomes e acho que vai aumentar. Quando elaboramos o programa de governo, dividimos em diversas áreas e fomos compondo com as pessoas. Já fizemos alguns reuniões com essas pessoas e agora vamos estar discutindo a transformação do programa de governo em plano de governo.


Você tem a preocupação de compor sua equipe executiva com pessoas da cidade? Há aqui esses profissionais qualificados que você quer buscar?

Primeiro, acho que há. Destas 250 pessoas, a grande maioria é de Porto Feliz. Mas há pessoas que podemos pedir para vir de outros lugares, acho que isso não tem importância nenhuma. O importante é o resultado. Se tiver bons resultados, ninguém nem vai lembrar que é de fora.


Você não teme ter as mesmas críticas que Dr. Léo sofreu por contratar pessoas de fora?

Eu temo não sofrer críticas. Diferente de alguns governos, acho que a crítica é importante. Quando você impede a crítica, você mata a criatividade de seu governo. E quanto às pessoas de fora, não há problema algum, desde que traga resultados. Mesmo assim, acho que não é o caso, pois acho que tem muita gente competente em Porto Feliz e vamos conseguir a maioria dos nossos componentes aqui.


Desde quando você está preparado para viver esse momento hoje?

Em 1988 foi uma fase importante, quando fui candidato pela primeira vez. Era um jovem militante, que tinha pouco conhecimento e muita coragem. Em 2000, já tinha a preparação da Câmara, o que me acrescentou muitos conhecimentos de como funciona a administração. Não conseguimos a vitória, mas foi importante para nos prepararmos e aprendermos. Outra fase importante foi a vitória do Lula como presidente, mostrando que a gente tinha que compor com a sociedade, porque sozinhos não iríamos ganhar nunca. Acho que o grande cabo eleitoral aqui foi o Lula, porque as pessoas perderam o preconceito, o medo de PT, embora em algumas pesquisas demonstrassem ainda que a grande rejeição pela minha pessoa era referente ao partido. Mas isso a gente vai quebrar, com certeza.


E o professor Maffei, vai se aposentar?

Não, o professor vai ficar longe da sala de aula, mas vamos fazer de Porto Feliz uma grande sala de aula, onde todos têm que passar por um processo pedagógico. Tenho dito que professor não é aquele que ensina, mas que, de repente, aprende. Acho que a campanha já iniciou esse processo pedagógico. Vamos desmistificar esse medo. Não teve invasão dos sem-terra, não teve funcionários sendo mandados embora.


Como é que você está negociando com o atual prefeito o processo de transição?

Já mandei alguns arautos, vamos dizer assim, algumas pessoas para entrar em contato. No último debate de 2000, o professor Erval bateu nas minhas costas e me disse: "É só você ficar mais calminho, que um dia você vai ser prefeito de Porto Feliz". E no último debate desde ano, eu falei para ele: "Professor Erval, chegou a hora. O senhor viu que eu estou mais calminho". E chegou mesmo. Vou conversar com o professor Erval com muito respeito e vou lhe dizer isso que falei, de ele fechar com chave de ouro e sair nos braços do povo.


Como é que você coloca Erval na história política recente da cidade?

Ele teve o seu tempo e fez o que foi possível. Mas, passou. E agora é a vez da mudança.


Fonte:  Revista Viu!

Djalma Honorato de Arruda (1906 – 1907; 1909; 1911 – Vice)


Domingos Albiero (1947 – Transição Eleitoral)


Erval Steiner (1989 – 1992; 2001 – 2004)

Eugênio Motta (Cel.) (1915 – 1922; 1934 – 1938)
Eugênio Motta e políticos da época - Anos 20 (Blog Ropresso)


Sala do Prefeito Eugênio Motta (Blog Ropresso)




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Felício Castelucci (1934)


Gabriel Antonio de Carvalho (1930 – 1932)


Genésio Leandro Vieira (1983 – 1988)


João Portela Sobrinho (1938 – 1942)

José Esmédio Paes de Almeida (1887 – 1895)


José Martins Bastos (1926 – 1927 Vice; 1928 – 1929 Vice; 1942)

Levi Rodrigues Vieira ( 2013- 2016)

Luiz Alcalá (1977 – 1982)


Luiz Antonio de Carvalho (Cel.) (1883 – 1886)


O bom de praça
Publicado na Revista Viu!

Quando foi prefeito de Porto Feliz (1993 a 96), o professor Luiz Antônio Carvalho Neto, o “Corneta”, se notabilizou por ter construído muitas praças na cidade. Foram 14. Embora alguns vejam isso de forma não muito positiva, para ele é uma marca expressiva e demonstra sua preocupação com o meio ambiente. Nesta entrevista, realizada na véspera do início da sua aposentadoria como professor, ele fala sobre diversos aspectos de sua passagem pelo comando da cidade, garante que não quer ser mais prefeito, mas está disposto a participar de uma equipe política para ajudar a Porto Feliz.

O senhor tem planos de regressar à vida pública?

Tenho vontade de participar de uma equipe, não necessariamente na cabeça dela. A gente pode contribuir com a melhoria da cidade, desde que aceite trocar idéias. Ninguém é dono da verdade. Já tive a minha experiência, senti as limitações do cargo. E os dissabores quando saímos são bem maiores do que você imagina, pois você tem de responder por todas as falhas ocorridas ao longo de quatro anos, em todos os setores da prefeitura, mesmo não participando diretamente de alguma delas. Você sai isolado. Agora, com a experiência de já ter administrado a cidade e acompanhado os atuais prefeitos, a vontade é de colaborar. Não podemos nos omitir. Ser estilingue não é o meu papel. 

Como começou seu envolvimento com a política?

Foi assessorando o Erval Steiner. Meus primeiros contatos com ele foram na área de Educação, quando fui seu vice-diretor durante cinco anos. Quando ele assumiu a prefeitura, colaborarei, sem vínculo, por dois anos. Nessa época, houve uma eleição para a presidência da Comissão Municipal de Esportes, na qual diferentes esportistas da cidade me escolheram. A partir desse trabalho, o Erval criou uma Diretoria de Esportes e Turismo, que assumi sem nomeação. 

Foi Erval quem te lançou na política?

Sem dúvida. Até então, não era filiado a nenhum partido. O Erval trouxe a sigla do PL para Porto Feliz e acabei me transformando num dos fundadores do partido na cidade, juntamente com outros companheiros. Já atuando como prefeito, me ofereceram a sigla do PFL e aceitei, pois entendia que, para conseguir recursos para o município, seria interessante estar num partido de ponta.

Qual o conceito que o senhor tem do professor Erval?

É um líder carismático, muito respeitado tanto pelos companheiros, quanto pelos opositores. Sua personalidade forte até inibe a postura de alguns amigos, o que não ajuda na divisão de idéias e de trabalhos. Mas, à medida que o político entende que precisa adotar determinada postura para vencer uma disputa, ele muda. Quando comecei com o Erval, ele tinha uma linha. Com o tempo, por conta das opções que decidiu fazer, não houve possibilidade de nos mantermos unidos.

Qual foi essa opção?

Ele entendia que o PL era um partido muito de elite e que a sigla precisava partir para uma linha mais popular. O PFL estava, inclusive, junto com o PL. Mas, na preparação da campanha de 2000, os contatos para uma coligação não resultaram em entendimento. Ele se associou então ao PSL e com o PPS. 

Qual o peso que Erval teve na sua eleição?

A minha indicação partiu dele e as pessoas do partido aceitaram. Não houve uma convenção para a escolha do meu nome.

Pela sua inexperiência, à época, diz-se que o eleitorado de Erval o elegeu...

Podemos até entender dessa maneira, pois o lançamento da minha candidatura foi uma surpresa. Mas, entendo que a minha indicação ocorreu pelo trabalho que prestei quando o assessorei nas áreas de educação e de esportes.

A vitória foi uma surpresa?

A surpresa acontece para quem não trabalha. Tão logo fui indicado, passei a trabalhar. Tive um apoio importante do Erval, que havia desenvolvido um bom trabalho e tinha uma aprovação popular elevada. Mas, fui a campo atrás dos votos, me apresentei à população. Aos poucos, foram surgindo companheiros, inclusive da zona rural, como Toninho Portronieri, que me deu a oportunidade de conhecer famílias numerosas, ligadas ao cultivo de uvas. Conheci lideranças que, até então, não mantinha contato.

Por Erval ter lançado seu nome e participado efetivamente da campanha, somado à sua inexperiência naquele período, provocava comentários de que era ele quem tomava as decisões...

Inicialmente, a imagem que se passou foi essa, porque muitos queriam o apoio do Erval para sair candidato. Quando fui escolhido, isso provocou dor-de-cotovelo em muita gente. Como ainda saí vencedor, durante um ano enfrentei dificuldades, todo mundo torcia contra.... O Erval, que havia começado como meu diretor de planejamento, deixou o cargo para se candidatar a deputado estadual. Então, essa influência não foi grande. Havia, sim, uma troca de experiências, pois tinha consideração pelo trabalho que ele já havia feito e as obras que ainda não haviam sido concluídas, como o Terminal Rodoviário, tarefa que, inclusive, começou na gestão do Tenente Genésio.

O Erval palpitava no seu governo?

Fui indicado por ele e, quando elaboramos o plano de governo da minha administração, evidentemente, pregamos a continuidade da gestão Erval. A demoliçãodo mercado, o acesso e a conclusão do terminal, a pavimentação em torno do campo do Araritaguaba estavam previstos no governo dele. Então, segui uma linha de trabalho, me comprometendo a cumprir obras que não haviam sido ainda executadas.

O senhor teria uma explicação para a derrota do Erval?

Sempre me preocupei com os resultados daquela disputa. Tenho, até hoje, dados de uma pesquisa, feita pouco antes da eleição, na qual a minha administração havia sido aprovada pela população. Mas isso não reverteu em novo apoio ao prefeito Erval. Além disso, o dr. Léo era uma esperança diferente para a sociedade, que sempre cobrou muito na área de saúde. A população esperava que, sendo eleito um médico, a situação poderia melhorar nessa setor. O dr. Léo também era muito estimado e respeitado, principalmente por atuar num bairro popular. Para completar, todas as forças políticas estavam unidas para derrubar o Erval.

O Erval nunca procurou ligar a derrota dele à sua administração?

Ele nunca me cobrou isso de forma direta. Ele pode até achar que não trabalhei para ele se eleger, mas não tinha essa força toda para reconduzi-lo à prefeitura.

Por que houve o rompimento entre vocês? 

Houve um rompimento do partido, não pessoal. Não tive nenhuma conversa com ele sobre isso. Esse rompimento ocorreu em fevereiro, antes de ele se eleger, numa reunião do Gerão (José Geraldo Pacheco da Cunha Filho), que é o presidente do PFL, e o Bizotti (Luiz Armando de Carvalho), que é um dos membros atuantes do partido, na casa do Erval. O Erval tinha seus planos, já estava em campanha desde que havia perdido a eleição. Tudo indicava que não havia interesse da parte dele de estar conosco. Quando chegou o momento das coligações e surgiu a reunião, o Erval não se interessou em ter o PFL como vice na chapa e nem mesmo como aliado.

Isso seria ainda resquício da derrota de 96?

Talvez, ele entendesse que nós fôssemos os culpados pela derrota. Mas isso é uma dedução nossa, pois ele nunca falou nada sobre o assunto, nem mesmo para mim. Mantenho um bom relacionamento com o Erval, mas nós não falamos de política. Talvez, até por um respeito, para não provocar um desgaste maior, pois, afinal de contas, somos primo-irmãos. 

E como foi formada a chapa da qual o senhor participou?

O fato de ter saído de vice com o Xuxo foi uma estratégia. O Xuxo acreditava que teria chance de enfrentar o Erval com um vice com potencial, que trouxesse votos, entendendo que eu seria esse candidato, por ter sido ex-prefeito.

Voltando ao assunto do terminal rodoviário, o senhor considera que foi a sua maior obra?

Foi uma delas. Antes de terminar meu mandato, consegui recursos com o governo federal para a construção de duas escolas de educação infantil. A escola estadual Professora Ester Maurino foi conseguida depois de muitas viagens até São Paulo. O Cemex era apenas um terreno com banheiro. Se as festas da cidade ocorrem atualmente, num local determinado, foi graças à minha administração. Também restauramos o Largo da Penha, um ponto histórico do município. O chamado Avenida Shopping, que até hoje não é bem utilizado, foi construído na minha gestão.

Por que o Avenida Shopping ainda não decolou?

Por falta de um gerenciamento mais profissional. Hoje, observando à distância, vejo que ali daria um excelente supermercado. A prefeitura, pelo menos, está utilizando as salas com diferentes finalidades. Talvez, fosse necessário mudar o nome para centro empresarial.

O shopping não mostra um pouco como as coisas públicas são conduzidas em Porto Feliz, sem muito planejamento?

Eu até concordo, mas nós tínhamos em Porto Feliz um mercado em condições deploráveis, ponto de desocupados, com total falta de higiene. Era um misto de rodoviária com mercado municipal que não atendia bem nenhuma dessas funções. Um cartão de visitas negativo para uma cidade que se diz histórica e turística.

Por que não houve a migração dos comerciantes de um ponto para o outro?

Eles entendiam que o local não era o mais indicado para a transferência. Dos antigos ocupantes, apenas três transferiram-se e mantiveram-se no novo local, enquanto outros se instalaram nas proximidades. Vale lembrar também que a maioria dos ocupantes dos boxes não era proprietária. Muitos alugavam o espaço e alguns, inclusive, utilizavam sem pagar boxes que pertenciam à prefeitura. Entre os proprietários, muitos nem moravam mais em Porto Feliz, e, portanto, não se interessavam mesmo com qualquer tipo de mudança. 

Dos que não concordaram com a mudança, alguns tiveram sucesso e hoje estão muito bem com seus negócios, como é o caso da Loja do Vado (Purga). Isso não reforça a tese de que é preciso ouvir as partes interessadas?

Talvez não houvesse necessidade de um investimento como esse que foi feito no Avenida Shopping. O espaço poderia ser empregado para outra finalidade.

O senhor assume uma mea culpa nesse caso?

Em termos, pois o que fiz foi complementar um projeto. Fazia parte de uma equipe, que possuía um plano de governo, no qual constavam a demolição do antigo mercado, a conclusão do terminal e a finalização do que viesse a substituir o espaço demolido. Não concordo que tenham sido obras em vão, pois não havia outra saída, por exemplo, para o terminal rodoviário. Alguns ônibus saíam do antigo mercado em situações deploráveis. Os bancos de espera eram tomados por desocupados, o mau cheiro prevalecia naquele ambiente. Algumas agências ficavam espalhadas pela cidade mas, hoje, há uma uniformização. 

Como o senhor aproveitaria o espaço do shopping, hoje?

Se não existissem as divisórias, ele poderia ser mais útil como um ginásio de esportes. Em Porto Feliz critica-se um monte de coisas, mas o que não podemos esquecer é que o terreno da cidade é muito acidentado. O custo de urbanização em algumas regiões fica muito elevado. A Avenida Dr. Antônio Pires de Almeida é de vital importância para o desenvolvimento da cidade, em termos comerciais, de transporte, mas, após minha gestão, não foi feito um metro de pavimentação para que se concluísse uma das pistas.

A cidade vive um caos nesse aspecto...

O período em que Porto Feliz teve a maior quantidade de área pavimentada foi durante minha administração. É inadmissível pensar em turismo com a cidade do jeito que está.

Como o senhor deixou o caixa da prefeitura?

Apresentei na minha última semana de trabalho uma prestação de contas para a cidadeDeixei a prefeitura com aproximadamente R$ 1,7 milhão em dívidas, mas com crédito a receber perto de R$ 2 milhões em impostos e tributos atrasados.

O senhor administrou a cidade no mesmo período o deputado federal Luiz Antônio Fleury Filho foi governador do Estado. Isso não era um ponto positivo?

Acho que para alguém que morou na cidade, que ao longo de dois anos teve no prefeito Luiz Antônio de Carvalho Neto um fiel companheiro, presente em todos os eventos do governador, sempre o apoiando, o Fleury praticamente não nos deu nada. A gente esperava que seria a chance de ouro de Porto Feliz. Se você me perguntar que obra foi feita na cidade na administração do governador Fleury, não sei apontar. Os recursos que o dr. Antoninho nos passou foram suficientes para fazer um pequeno trecho do Posto Calucini até a rua Santa Cruz. A escola que Fleury autorizou construir, foi construída, na verdade, pelo governador Mário Covas. O mesmo ocorreu com as 110 casas populares feitas no município. Mesmo perdendo nos dois turnos em Porto Feliz, Covas realizou o que havia sido prometido, mas não cumprido por Fleury.

A oposição não fica muito calada fora do período eleitoral?

Concordo, mas os meios de comunicação em Porto Feliz também não oferecem oportunidades para esse tipo de manifestação.

O senhor acredita que Erval cumprirá seu plano de governo?

Pelo que consta do seu programa, será cumprida pouca coisa, pois ele enfrenta falta de repasses e também há uma queda de arrecadação.

Existe a possibilidade de união entre seu grupo político e o dele?

Em política tudo é possível e ainda estamos a um ano das eleições. A minha opinião é apenas mais uma dentro do partido, mas há possibilidade de se conversar com qualquer grupo. Como membro do PFL, entendo que devemos tentar algo melhor para a cidade. 

O senhor foi citado como marco de uma fase negativa atravessada pela cidade....

Respeito a opinião de qualquer um, mas discordo dessa colocação. Que me lembre, na minha administração Porto Feliz tinha um distrito industrial no papel, com duas empresas. Consegui recuperar as áreas das firmas que não cumpriram seus contratos e trouxe outras seis para o município, que hoje funcionam. Foi a ação possível na época. Critica-se a criação do Jardim Vante. Onde esse povo iria morar se não houvesse essa preocupação? Com o fechamento da União São Paulo, boa parcela da população rural, das fazendas da companhia, veio para a cidade, mas os críticos esquecem-se disso.

A prefeitura não poderia ter negociado com a empresa a manutenção das suas atividades?

O encerramento da usina não se deu na minha gestão e é bom lembrar que há coisas que um prefeito não tem como evitar, mesmo tendo boa vontade. Antes da minha administração, por exemplo, foram encerradas as atividades da Fábrica de Tecidos Nossa Senhora Mãe do Homens.

E a questão do paternalismo na prefeitura durante a sua gestão?

Quando assumi o cargo, a prefeitura contava com 700 funcionários. Quando saí, eles eram cerca de 900. Mas a cidade teve um desenvolvimento nesse período: o número de escolas aumentou e era necessário contratar professores, funcionários. Ampliamos o número de guardas municipais também, sempre voltados para melhoria da educação e da segurança. Hoje, a prefeitura conta com mais de 1.200 funcionários.

Não é necessário enxugar a máquina?

Esse aumento têm justificativas: além de a usina de açúcar e a fábrica de tecidos terem encerrado suas atividades, após 70 anos de funcionamento, houve a municipalização do ensino. A prefeitura assumiu a administração de várias escolas estaduais, o que fez com o que município se tornasse, naturalmente, o principal empregador da cidade. Reconheço que houve um certo clientelismo, com a distribuição de terrenos, ajuda na construção de casas, medidas que ajudaram a me eleger, pois o povo, que estava desamparado, ficando sem emprego, foi beneficiado com esse apoio social. Hoje, por exemplo, as famílias necessitadas recebem remédios. Isso vem do governo, fruto de uma política nacional, não do município. Tem de saber diferenciar, pois não é o prefeito quem está fazendo doações.

Porto Feliz precisa de uma prefeitura nova?

A cidade tem outras prioridades. Que eu saiba, o novo prédio não constava no programa de nenhum candidato. Há prédios para alugar na cidade que acomodariam facilmente os diferentes setores da prefeitura.

E o que pode ser feito em Porto Feliz?

Tudo faz parte de uma conjuntura econômica, o País tem de crescer. Porto Feliz dispõe de uma área para receber indústria, mas o empresário precisa ter capital para investir, apoio, e aí entra o BNDES, por exemplo. Tudo se liga ao governo federal, estadual.

Quem foi o grande prefeito de Porto Feliz?

Admiro muito o trabalho de Sérgio Betiol, que expandiu a cidade. Porto Feliz não tinha uma estação de tratamento de água adequada. Ele pensava no futuro da cidade. Construiu avenidas importantes, mexendo com propriedades de famílias tradicionais. 

Como o senhor compara Porto Feliz com as cidades vizinhas?

Porto Feliz fica situada entre cidades que oferecem comércio, educação, empresas de certo porte, o que inibiu o seu desenvolvimento. E, durante quase 100 anos, vivemos apenas da economia gerada pela usina de açúcar e pela fábrica de tecidos. Faltou a definição de um distrito industrial numa área mais apropriada. Como o terreno havia sido recebido de graça do Estado, o município tinha de aproveitar. Mas, acho que o ideal seria aproveitar o trecho entre as rodovias Mal. Rondon e Castelo Branco, maior e mais plano.

O senhor já pensou algum dia em sair de Porto Feliz?

Não, mas dois dos meus filhos estudam e trabalham fora daqui, por falta de oportunidades. Eu mesmo vivi 12 anos em São Paulo, tive a experiência de saber o quanto é difícil de estar afastado da família, buscar um caminho próprio.

Fonte:  Revista Viu!





Manoel Leandro da Rocha (1910 – 1911)

Matias Fernandes de Camargo (1902)


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Pessoas Que Emprestaram Seus Nomes A Locais Públicos
Artistas Locais
Esportistas Locais

Cesário Motta Júnior

CESÁRIO MOTTA JÚNIOR
ESCRITO POR JEHOVAL JUNIOR E OUTROS.

Filho do médico dr. Cesário Motta e de Clara Cândida Nogueira de Motta (sua prima), nasceu em Porto Feliz, em 5 de março de 1847.

Ali iniciou seus estudos e depois foi para o Rio de Janeiro estudar medicina. Seu pai, que também era médico em Porto Feliz, ganhava pouco pelo ofício. Assim, os estudos do filho, no Rio de Janeiro, foram comprometidos e só tiveram continuidade devido a ajuda de Nuno Motta, tio do jovem estudante.

Concluídos os estudos, defendeu sua tese, que foi aprovada com distinção e, desta forma, recebeu o diploma que tanto sonhara.

Casou-se com Adelina Moreira, ainda no Rio de Janeiro, com quem teve uma filha.

Voltou a Porto Feliz e pouco tempo depois mudou-se para Capivari. Na cidade, fixou residência na esquina onde atualmente se encontra o prédio do Banco Santander, de frente para a Praça Central.

Ainda jovem tornou-se deputado da Assembléia Constituinte, em 1891 e, desde o primeiro discurso, revelou seu vasto conhecimento sobre os problemas nacionais, conquistando a admiração de muitos.

Como deputado, defendeu a criação de um Instituto de Ciências Naturais, uma Escola de Belas Artes e uma Escola de Farmácia, projetos que conseguiu implantar enquanto secretário de Estado.

Dr. Cesário Motta Jr. criou o instituto de Soroterapia (Butantã), o Jardim de Infância, a Escola Modelo da Luz, a Escola de Medicina, o Ginásio do Estado, o Ginásio de Campinas e a Escola Modelo de Itapetininga.

Foi um dos idealizadores e sócio-fundador da Sociedade de Medicina de São Paulo e primeiro presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Foi também agraciado com o prêmio da Consagração Unânime do Povo Paulista.

Tornou-se conhecido e querido na nossa cidade, não só como médico, mas também por exercer ativamente sua cidadania, lutando pelas áreas da educação e saúde, preocupando-se com a higiene e o bem-estar da população.

Faleceu em 24 de abril de 1897, aos 50 anos, e é o patrono do Museu Municipal de Capivari.

Outras Fontes:


A decana da advocacia
Publicado na Revista Viu!


A advogada Cecy Marchesoni Habice Pinna é o tipo de mulher que não teme desafios. Quando tinha apenas 10 anos, saiu da cidade para estudar. Determinada, passou pela Faculdade São Francisco derrubando preconceitos e voltou advogada. A única da cidade, diga-se. Dividia o júri com ninguém menos do que doutor Esmédio Paes de Almeida, em um tempo em que o fórum sequer tinha banheiro feminino. Hoje, aos 73 anos, é uma referência aos colegas de profissão, com sua fama de imbatível nos tribunais. Uma virtude compartilhada com um insuperável vício. Mesmo depois de passar por um derrame, não largou o hábito de fumar. Descontraída, bem-humorada e com a língua afiadíssima, a portadora de registro 8.100 da Ordem dos Advogados do Brasil recebeu a reportagem da Viu! e fez previsões não muito otimistas para a cidade: “Porto Feliz vai acabar”, prevê.

Como começou seu relacionamento com Porto Feliz?

Nasci aqui e estudei em outras cidades. Saí em 1940 para fazer o ginásio em Sorocaba e o colegial em Campinas. Depois, fui fazer faculdade em São Paulo. Meu pai, José Elias Habice, sempre foi comerciante em Porto Feliz. Tinha uma loja e um banco; foi um dos fundadores da Cooperativa Banco de Crédito. Era um homem idealista, que sonhava com diversas atividades, participava do Rotary Club e trabalhou para instalação de um ginásio aqui. Meu avô, Elias João Habice, que hoje dá nome ao Hotel Monções, veio do Líbano, depois de ter morado no Haiti. Ele chegou aqui aos 17 anos, numa viagem na qual ele passou pela Itália, Suíça e França.

Quando a senhora descobriu que queria ser advogada?

Desde a época do colegial, em Campinas. Naquela época, não havia cursinho por lá, então passei a ter aulas particulares de inglês e português. Decidi ir para São Paulo estudar também latim, pois meu objetivo era entrar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Na Capital, entrei no cursinho do Castelões e acabei passando em 6º lugar no vestibular, em 1949. Quando terminei a faculdade, minha vontade era continuar em São Paulo, mas meu pai me queria embaixo de duas asas e me fez voltar para Porto Feliz.

E como era o campo de trabalho em Porto Feliz?

Havia dois advogados: eu e o dr. Esmédio. Os outros eram de fora. Naquela época, havia o juiz Ramiro Martins Silva, que estava irritado com o Dr. Esmédio e procurava cortar suas atividades. Eu tinha trabalhado em São Paulo, durante a faculdade, com o drs. Rao e Montoro, mas não tinha tanta prática. Queria mais era voltar para a Capital, mas o juiz, que havia se tornado amigo de meu pai, passou a me nomear para assistência judiciária. Foi quando me deparei com meu primeiro caso importante, um homicídio.

Como foi essa história? 

O réu, chamado Xavantes, havia matado a mulher e desaparecido. Preso cerca de 10 anos depois, por um outro motivo, na região de Presidente Prudente, descobriu-se, então, a história do assassinato. Não havia nenhum depoimento dele a respeito do assunto. Apenas algumas testemunhas iam até lá e lamentavam a morte da vítima. O acusado era de Boituva e, quando veio para cá, fui conversar com ele. Durante essa conversa, o réu me confessou que surpreendeu a mulher tendo relações sexuais com outro, conhecido como “Vespeira”. Irritado com o flagrante, pegou um pedaço de madeira e matou-a. Foi preciso arranjar um bom artifício para defendê-lo.

E qual foi o artifício?

Existe sempre um exame de corpo delito, levantamento de cadáver. Estudei o processo inteiro e descobri que, nesse exame, faltava a calcinha nas vestes da mulher. Essa era a única prova de que o réu tinha pego a mulher realmente no pulo e a base da minha argumentação. Entre muitos bate-bocas no tribunal, consegui que ele fosse absolvido por 6 votos a 1. Mas, por conta desse único voto, Xavantes teve de aguardar um segundo julgamento ainda na prisão. No segundo julgamento, foi finalmente inocentado, por 7x0.

E qual foi a repercussão?

Já era um escândalo eu estar no júri. Tinha apenas 23 anos, recém-formada e ainda falando em relação sexual, em 1954! Aquilo foi um alvoroço. Quando contava que o réu havia flagrado a esposa no ato, as mulheres que estavam acompanhando o caso, no tribunal, se levantavam e iam embora ou, então, se escondiam de vergonha. Depois disso, passei a fazer júris, assistência, trabalhar mesmo na área. Em 1956, ganhei uma bolsa de estudos e fui para a Itália, voltando em 1957.

Como foi para a senhora, na época, defender um homem acusado de um ato tão machista? Isso não era um paradoxo, já que a senhora era uma jovem advogada, mulher, que representava justamente o oposto?

Meu compromisso era defender o cliente. Não interessava se aquilo estava contra minha condição de mulher. Depois, tive outros casos semelhantes, mas me recusei a fazer a defesa, principalmente quando era relacionada a estupro. Além disso, já haviam mais advogados na cidade.

A senhora sempre atuou na área criminal?

No crime, até aproximadamente 1990. Depois, tive um problema de saúde e o médico me aconselhou a sair da área, pois o ofício me deixava muito tensa.

Algum outro caso na cidade que tenha marcado?

Por conta de sigilo profissional, não posso falar de outras histórias, pois os envolvidos ainda estão vivos. Mas há, ainda, um fato interessante sobre aquele meu primeiro caso. Depois de muitos anos, peguei um táxi em Boituva, num dia de chuva, em direção a um sítio. Notei que o motorista me observava muito pelo espelho retrovisor, até que perguntou se eu não era a dra. Cecy, advogada de Porto Feliz. Ao responder que sim, ele continuou dizendo que, apesar de eu não conhecê-lo, ele me conhecia bem, pois era o “Vespeira”. 

E como a senhora reagiu?

Fiquei apavorada e pensei na mesma hora: é agora que eu morro numa quebrada qualquer. De tanto medo, queria dormir no sítio. Acabei voltando de lá com o filho do meu cliente, de caminhão, até pegar um trem para Porto Feliz.

Como era Porto Feliz naquela época?

Era menos movimentada, mas não mais pacífica do que hoje em termos de problemas penais, principalmente em épocas eleitorais. Saíam facada, pescoção e brigas. Porto Feliz abrangia Boituva e Iperó. As brigas que ocorriam em Boituva, as cenas de pugilato na própria Câmara, eram todas julgadas aqui.

E como era o seu relacionamento com as pessoas de Porto Feliz?

Achavam que eu não precisava de dinheiro, que tinha pai rico e que não ia cobrar nada de ninguém. Mas, nesse ponto, eu fazia bem a diferença: meu pai está de um lado e eu estou de outro. Se for para trabalhar de graça, é de graça. Se for para cobrar, é tanto. E cobrava bem.

A senhora enfrentou situações de preconceito por ser mulher ?

Muitas. A começar pelo Fórum, que não foi feito para uma mulher. A escada era enorme, só havia um banheiro, concebido para homens. Quando precisava, tinha de pedir ao sr. João Gastardelli, com quem tinha muita amizade, para usar o da casa dele.

A senhora acha que influenciou outras mulheres a seguir carreira na área de Direito?

Acredito que não. Tomaram iniciativa por elas mesmas. Talvez, as dras. Eliete e Margarida, por me verem começando a advogar quando ainda estudavam no ginásio, tenham se inspirado. Ou, ainda, a Cleide Coan.

O que a senhora sente mais falta daquela época?

Parei de trabalhar em dezembro do ano passado. Sinto falta do exercício da profissão e do ambiente no qual convivíamos em épocas mais passadas. O trabalho era agradável, pois brincávamos entre nós. O João Mantovani, por exemplo, me mandava contratos citando a prefeitura de “Chico City”, a cidade fantasiosa do humorista Chico Anísio. 

Hoje não existe mais esse clima de camaradagem?

Já acabou. Até os últimos dias de atividade, ainda brinquei com meus colegas de trabalho, fazia uma folia e outra. Mas, eles mesmos se perguntavam sobre quem iria continuar a trazer esse tipo de alegria ao trabalho.

A que se deve essa transformação?

Atualmente, não conseguimos identificar todos os advogados da cidade. Este ano, por exemplo, entrou um monte de gente nova na profissão. Hoje, quando passo pelo Fórum, não conheço mais ninguém. Sinto falta dos meus antigos companheiros. Agora, a questão da descontração no ambiente de trabalho depende muito do modo de pensar do juiz. Há alguns que dão mais liberdade do que outros.

Umas das críticas que muito se ouve, hoje, diz respeito à baixa faixa etária dos juízes...

Costumava brincar com os juízes mais novos, chamando-os de “meus Menudinhos”. Não sou saudosista, mas defendo a volta da exigência do exercício da advocacia, de fato, por um período de pelo menos cinco anos, para a ocupação de tal posto. Com a prática da advocacia, o juiz consegue uma outra visão do caso, prevê e simula situações.

O cenário atual é prejudicial à Justiça, então...?

Caiu o nível do profissional. Antigamente, o advogado se sentia mais estimulado, inclusive, a produzir peças melhores. De uns tempos para cá, nós escrevíamos, fazíamos um bom trabalho, coisa de 10, 15 páginas, e o juiz resolvia em 3 linhas. Não analisava, não lia o que você tinha escrito. E o mesmo ocorre no Tribunal. Tinha vontade de fazer um teste, copiando uma parte do Hino Nacional ou uma piada, no meio de um arrazoado. Eu sei que eles não lêem. Quando o fazem, lêem a contestação. É muita prepotência...

Esse tipo de situação contribuiu para o seu afastamento?

Quando me afastei, não foi por vontade própria, mas por estresse. Tive um acidente vascular cerebral, em casa, a dois dias do Natal. Fui encontrada desmaiada. Por conta do problema, não me lembro de fatos próximo à data. Fiquei fora do ar de dezembro a janeiro. Trocava o nome dos filhos, não reconhecia minha nora, não lembrava quem havia me visitado. Após a recuperação, perguntei quando voltaria a trabalhar e o neurologista deixou transparecer que era contra o meu retorno.

Quando a senhora voltou a perceber as coisas ao seu redor?

Não sei exatamente quando isso ocorreu. Eu notei, um dia, que estava entrando em casa, mas não me lembrava da viagem de volta. Pensava que estava em novembro, pois foi o mês que eu havia visitado o meu médico. Lembrei-me, há pouco tempo, de que na véspera do meu acidente, tinha ido a um jantar de confraternização.

Apesar de ter passado por esse susto, a senhora continua fumando cigarro...

Ah, eu não presto. Enquanto estive doente, não recordava nada, mas lembrava-me dos cigarros. Sou dependente, já cheguei a fumar dois maços tranqüilamente.

A que a senhora atribui o congestionamento do Judiciário?

Antigamente, havia um temor das pessoas em procurar a defesa dos seus direitos. As pessoas não gostavam de ir ao Fórum nem como testemunha. Isso mudou. A assistência judiciária, hoje, se estende além da área criminal. Com a crise é possível ver, por exemplo, muitos casos de falência. O juizado especial de pequenas causas, que deveria ajudar a diminuir o volume, também não cumpriu com sua tarefa.

Os juízes têm mesmo muitos privilégios?

Não. Um juiz trabalha 12 horas por dia, não tem secretário ou assistente para pesquisar. Quem trabalhava comigo não reclamava, pois era uma advogada que trazia tudo diagnosticado, o que facilitava o trabalho de sentenciar. Mas, o nível dos advogados caiu demais. Isso decorre, na minha opinião, da proliferação de faculdades. Em qualquer lugar tem uma instituição de ensino superior e o nível delas é ruim. Fui examinadora da prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em São Paulo, e não acreditava como alguns dos candidatos tinham conseguido entrar na faculdade, tamanho os erros de português.

A senhora nunca pensou em seguir a magistratura?

Não quis a magistratura, nem o Ministério Público. Da minha turma, havia amigos que estudaram para o Ministério Público, como o Plínio de Arruda Sampaio, por exemplo. Insistiram comigo para que fizesse o mesmo, mas não quis. Muitos deles passaram e, hoje, estão aposentados. Outros foram cassados.

Qual a sua definição pessoal de Justiça?

É a procura da composição de interesses contraditórios no sentido de pacificar a sociedade, dar soluções. Mas, a situação está muito grave, pois qualquer recurso que chega ao Tribunal leva seis anos para se julgar.

As Câmaras de Arbitragem, que já existem nos Estados Unidos e foi implantada recentemente em Itu, são um caminho?

Há muita matéria que é exclusivamente de Direito. Vão se resignar a esses árbitros? Quem são esses árbitros? Conheço um juiz que fez um curso sobre arbitragem, nos Estados Unidos, uma pessoa preparada para essa atribuição. Mas e os demais? O pessoal confia na decisão?

A reforma do Judiciário é necessária?

Acho que sim, mas não deve ser feita pelo deputado x ou y, e sim pelo próprio Judiciário. Os advogados têm de colaborar. O deputado não entende nada, não sabe o que está se passando.

Porto Feliz está comemorando 206 anos de emancipação. Qual foi a melhor época que a senhora viveu na cidade?

A minha época de infância. Tão logo me formei, voltei para Porto Feliz e ainda era bom viver aqui. No entanto, foi surgindo muita briga por conta da política acirrada, divisões. 

Qual a leitura que a senhora faz da cidade, além da violência?

Porto Feliz empobreceu e, na minha opinião, a tendência é desaparecer. Qualquer aglomerado gira em torno de um objetivo. O dinheiro tem de produzir riqueza e, essa riqueza, circular pela população ou naquele aglomerado. Não vejo isso em Porto Feliz. As empresas foram fechando e indo embora. O maior empregador da cidade é a prefeitura e isso não pode ser assim. Quem sustenta a prefeitura somos nós. Ficamos, então, cada vez mais apertados, com impostos e taxas. 

Quando a prefeitura passou a agir de forma “paternalista”?

Acho que foi a partir da gestão do Corneta. Boituva progrediu e nós regredimos. Fiquei um tempo sem sair de casa até que me convidaram para dar uma volta pela cidade. Fiquei estarrecida com o número de imóveis para se alugar ou vender no centro. E nem passei pelos bairros. É um empobrecimento geral da cidade. As casas de comércio não têm movimento, restaurantes foram fechados.

Falta esperança também?

Falta. Não sei se essa gente conseguiu muitas coisas, não sou a favor de João ou de Pedro na política, mas acho que o prefeito está dando muita coisa. Por exemplo: a questão de medicamentos, que custam muito. Aqui se tem de graça, até os mais caros. Assistência se tem à vontade.

O que a senhora acha da política de casas populares?

Eu não faria mais. Sou de esquerda, achava que, em Porto Feliz, havia falta de casas populares. Mas, nossos males começaram com a construção desse tipo de loteamento. Aumentou a demanda na saúde, na escola, por cesta básica. Aumentou o número de desempregados, com reflexo em todo o sistema.

Em âmbito nacional, há perspectivas de melhora?

Votei no Lula, sempre votei nele. Ele não mostrou todas as cartas, ainda não.

Fonte:  Revista Viu!





Padre Chico completa 50 anos de sacerdócio com missa domingo, 8, na Matriz
Para comemorar a data, o Padre celebrará uma missa às 9h na Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, a Matriz
Publicada na Revista Viu!


Reprodução da lembrança de sua primeira missa, em 1963.

   Natural de Porto Feliz, Francisco de Assis Moraes, o Padre Chico, completa neste domingo  8, 50 anos de sacerdócio. Para comemorar a data, o Padre celebrará uma missa às 9h na Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, a matriz da cidade. 
   Conhecido por seus fortes ideais e o envolvimento com a vida política, Padre Chico considera Jesus Cristo um revolucionário que mudou o mundo. “Muitos cristãos tem medo disso. Eu sempre acreditei que o cristão tem que ter compromisso com o povo e principalmente com os mais frágeis e devem, através da participação política, lutar por um mundo mais justo, onde os bens sejam mais bem distribuídos”, afirma Padre Chico. Esta coragem de sempre falar o que pensa deu ao Padre a fama de polêmico. “Acredito que as pessoas devam se unir para lutar por melhor educação, melhores condições de vida. Também penso que cada ser humano deva conservar sua espiritualidade, não necessariamente religião, para enxergar o próximo como irmão”, define.  
   Francisco de Assis, nome de Santo, descobriu sua vocação para a vida religiosa ainda muito novo, pois sua família sempre foi bastante católica. Quando menino, participava de uma Associação para crianças que era dirigida por freiras e, pouco tempo depois, foi para o Seminário Diocesano de Sorocaba, onde estudou como interno por sete anos. “Uma das minhas maiores alegrias, quando fui para o Seminário, era jogar futebol. Eu ainda era criança e gostava muito de esportes”, relembra o Padre Chico. Depois do chamado período de “Seminário Menor”, estudou no Seminário do Ipiranga, em São Paulo, por mais seis anos e também no Seminário de Aparecida do Norte.
   Francisco tornou-se Padre Chico em dezembro de 1963. Foi, então, enviado como auxiliar para a Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, em Itapetininga, onde permaneceu por 11 meses. “Sempre fui um entusiasta político e entendo que é dever cristão participar das decisões para o povo. Quando fui para Itapetininga falava muito sobre as Reformas de Base [redistribuição de terras] na igreja e em palestras. Conversava com muita gente. Por isso, quando aconteceu o Golpe Militar, fui preso e levado para a cadeia acusado de ser comunista”, conta o Padre. Após esse período, se manteve exilado na casa de colegas até receber ordem da Diocese para assumir a Paróquia Santa Cruz, em Cesário Lange. Nessa época, também respondeu pela Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Pereiras. Ali, permaneceu por 18 anos, período que se lembra com saudosismo, já que foi um dos principais responsáveis pela construção da Santa Casa de Cesário Lange, feito que conta com muito orgulho. “Algumas pessoas pensavam que eu estava engajado na construção do Hospital por interesse próprio, então eu disse que assim que o prédio fosse inaugurado, iria embora. E assim fiz”, conta o Padre. 
   Após o período em Cesário Lange, Padre Chico foi diretor da Fundação Casa (antiga Febem), em Itapetininga, onde conviveu diariamente com cerca de 200 internos de 13 a 17 anos durante dois anos. “Acredito que fizemos um bom trabalho com estes rapazes pois o número de rebeliões diminuiu e procurávamos entender a história de cada um para melhor orientá-los para a vida”, explica. Quando deixou o cargo, o Padre, que também é advogado, voltou a ensinar. 
   Em 1984, Padre Chico voltou à  Porto Feliz. Foi um dos fundadores da Sociedade dos Vicentinos na cidade, participou do Encontro de Casais com Cristo e apresentou aos portofelicenses o Movimento dos Focolares. Organizou o primeiro diretório do Partido dos Trabalhadores (PT), em Porto Feliz. “Na época, o PT era um grupo que prometia lutar pelos direitos dos trabalhadores e dos desprovidos de recursos financeiros. Fui candidato em cinco eleições sem sucesso. Fui eleito vereador em 1997 e, por motivos de saúde, tive que me afastar”, lamenta o Padre. “Nos últimos anos, visivelmente, o PT se corrompeu e as pessoas da igreja foram bastante afetadas com isso”, afirma. 
   Atualmente, Padre Chico mora em Porto Feliz e, mesmo em tratamento de saúde, está sempre disposto a atender as pessoas, conversar e aconselhar com base em toda sua experiência de vida. E, para quem quer seguir os passos da Igreja que, segundo ele, está agora muito bem representada pelo Papa Francisco, ele recomenda. “Ser Padre não é ficar dentro da Sacristia. É preciso observar as carências da comunidade e agir em favor delas. O mesmo vale para os cristãos. É isso que espero do futuro da Igreja Católica”, finaliza.

Informações
Missa em Comemoração aos 50 anos de Sacerdócio de Padre Chico
Data: 08/12/2013 – Domingo, às 9h
Local: Paróquia Nossa Senhora Mãe dos Homens (Matriz de Porto Feliz)

Fonte:  Lilian Sartório





O Históriador E O Rio
Publicado na Revista BemPorto














Olair Coan



Olair Coan, talento conterrâneo nos palcos e na TV
Por Revista Viu!
Publicado na Revista Viu! de novembro de 2004
(Extraído de: http://www.revistaviu.com.br/noticias/olair-coan-talento-conterraneo-nos-palcos-e-na-tv/20071231132038_N_009)

Dos holofotes para as câmeras de tevê, em 1995, Olair ganhou o papel de Padre Emílio, em 1995, na novela “As Pupilas do Senhor Reitor” do SBT. Foi um marco, onde ele conheceu de perto a força da mídia de massa. “As pessoas começaram a me reconhecer como ator, coisa que eu já era há muito tempo”, conta. Com o monólogo “Confissão de Leontina”, apresentado várias vezes me Porto Feliz, o ator recebeu a indicação do prêmio Shell. Sua paixão pela dramaturgia, confessa, surgiu com o cinema e não com a tevê ou o teatro. O menino Olair, que se encantava com as exibições do Cine Central, foi estudar e fazer carreira artística em São Paulo. Como a vida imita a arte, em 2003 ele foi parar na telona, no belo Desmundo. Com 20 anos de carreira, o ator Olair Coan não se desliga de suas origens. Prova disso é que as histórias pitorescas de Porto Feliz viraram matéria prima para teatro e cinema, com “Será o Benedito” e “Araritaguaba”.

Como é que você descobriu que queria ser ator, fazer teatro?
Isso tem a ver com Porto Feliz, onde existia uma tradição de teatro, que vem do teatro amador, do grêmio Leopoldo Froés, se não me engano. Esse Leopoldo Froés funcionava ali no cinema. Eu não participei disso, mas a dona Assumpta Rogado nos ensinava quando fazíamos teatro infantil no coleginho. Ela ia às vezes lá, nos ensinava as coisas. Era uma tradição que vinha também com o Interact Club, onde eu entrei e comecei a desenvolver ali, algumas peças infantis e comecei a tomar frente naquilo. Isso em 1976, 77. Daí começamos a ir para Sorocaba, na biblioteca de lá, em busca de textos de teatro. Aqui não tinha nada. Íamos para Sorocaba para ficar o dia todo lá, onde comecei a ter contato com Nelson Rodrigues e trouxe para a cidade. AS pessoas nem sabiam o que era isso. Fazíamos textos de Nelson Rodrigues aqui, a molecada. E foi aí que comecei a tomar gosto.

Como foi o desenvolvimento dessa sua aptidão?
Logo depois foi para Sorocaba fazer um curso com Paulo Betti, uma oficina de teatro. Foi ele quem me falou da Escola de Arte Dramática da USP e fui. O vestibular era concorridíssimo, mas passei e fiz o curso. Desde então eu tenho trabalhado em teatro profissionalmente.

Já como ator profissional, você desenvolveu alguns trabalhos em Porto Feliz?
Sim, eu me lembro que a primeira vez que vim para cá, logo depois de formado, foi para o Clube Recreativo Familiar. Nesta época, Dr. Léo era o presidente do clube e ele me trouxe para fazer uma oficina de teatro e nós fizemos um espetáculo com atores aqui de Porto Feliz. Durante dois meses eu trabalhei e montamos uma peça. Depois, algumas atividades independentes. Eu vim fazer meus monólogos aqui no Tênis Clube. Mais recentemente, para as escolas daqui e de Itu. Provavelmente eu traga de novo para as escolas “Confissão de Leontina” (da Lígia Fagundes Telles), que é um espetáculo belíssimo.

Apesar dos seus trabalhos em São Paulo, você nunca se descuidou de suas apresentações em Porto Feliz, não é?
É, até porque eu estou sempre voltando para cá, estou indo e voltando. E sinto que há um interesse na cidade por teatro, por ver teatro, por fazer teatro

As pessoas entendem melhor o teatro hoje aqui?
Eu percebo que sim. Porto Feliz tem uma cultura de teatro, embora ela esteja às vezes esquecida. E tem muita gente que gosta e saber ver isso, que vem de lá desse grupo que eu estava falando, de muitos anos atrás. E as pessoas vão passando isso, de pai para filho. Essa cultura existe, só precisa ser resgatada.

Você já usou suas histórias e vivências locais em suas criações teatrais?
Eu escrevi uma peça sobre Porto Feliz. Chama-se “Será o Benedito”, que conta a história do roubo do São Benedito. Eu ganhei uma bolsa da Secretaria de Estado da Cultura para escrever essa peça. Quando eu fiz a pesquisa, o seu Castelucci (Romeu) me contou, entre outras coisas, que na época do império as grande companhias de teatro portuguesas, francesas, passavam por Porto Feliz. Na época havia um teatro fantástico ali onde é a Barra Funda. Então, essa tradição vem de mundo longe.

Apesar de você afirmar que vê esse interesse nas pessoas, as ações não acompanham.
Pois é. As ações públicas. E a iniciativa privada parece que fica meio inibida. Eles acham que isso não é uma coisa lucrativa, rentável. Na verdade é um erro porque economicamente é bem rentável. Se você tivesse em Porto Feliz uma pequena sala de cinema e teatro você teria não só o lado cultural, mas uma coisa ligada ao comércio. É uma atividade muito forte. Em São Paulo as salas fazem sucesso, os chamados cinemarks. Coloca uma boa segurança e um bom estacionamento, elas lotam. Mas aqui as pessoas ficam achando que teatro tem que ser uma coisa gratuita ou para os pobres. É um erro. Um erro de percepção.

Mas é um erro incentivado, não?
Eu acho que sim. Precisava ter uma iniciativa pública (do estado ou da prefeitura) para resgatar isso. Porque daí a iniciativa privada percebe isso e acompanha. Ela percebe isso. Agora, se não houver um interesse público, do ponto de vista da educação ou cultura, daí fica difícil

Depois da formação profissional, como foi seu trajeto em São Paulo?
Eu fiz um caminho meio sem muita escolha. Saí da Escola de Arte Dramática, depois entrei no grupo de teatro que hoje é CPT, na época era Grupo de Teatro Macunaíma. Nesta companhia fizemos Macunaíma, Romeu e Julieta e Nelson Rodrigues. Com isso, começamos a correr o mundo, em 1985, fazendo turnê na Austrália, Israel, Los Angeles, Espanha, Alemanha. Ali fiquei trabalhando uns três anos e só depois comecei a fazer iniciativas próprias, escrever meus textos, dirigir minhas peças. Então, esse caminho foi meio natural. Depois fiz alguma coisa na televisão, no cinema também, mais recentemente fiz o Desmundo, um longa muito bonito.

Hoje você dirige, atua e escreve teatro. Como se combinam todas essas frentes?
Além disso eu também ensino teatro. As coisas vão se intercalando sem que eu escolha muito. Às vezes me chamam mais para dirigir, outras para atuar. A formação de ator é a base de tudo. Mas eu gosto de fazer as três coisas. Quando eu estou fazendo uma coisa, é aquilo que eu gosto de fazer. O que é muito bom. Tenho amigos que ficam angustiados com isso. Hoje eu estou dirigindo e ensinando na escola Wolf Maia, de teatro e tevê. Eu tenho uma aluna minha que está fazendo sucesso na novela das 8, a atriz Tânia Calil. Imagina o sucesso que a escola é, porque todo mundo quer fazer novela (risos). Agora em agosto, vamos fazer uma peça do Sam Sheppard, chamada On The Roads, que eu adaptei. Ela deve entrar em cartaz no shopping Frei Caneca. Primeiro vai ficar em São Paulo e depois talvez vá para o Rio. Vamos ver a carreira que ela vai fazer. Porque em teatro tem que ter uma quimicazinha para dar certo.

É uma química de incertezas, que depende de vários setores?
Ah, sim. É um casamento, uma comida, que pode ficar muito saboroso ou não. Não tem receita. Às vezes você pega os melhores atores, melhor diretor e não dá certo. Teatro é uma alquimia, você vai fazendo aquilo, às vezes vai florescendo e acaba dando muito certo. Mas é prazeroso porque o público também faz parte dessa química.

Qual a sua concepção de mundo sob a óptica de um artista? Como você vê Porto Feliz hoje?
Eu vejo que as pessoas estão correndo muito, ficam sonhando muito com a matéria, com o que virá e se preocupam muito com o ter. As pessoas estão muito atribuladas com tudo e às vezes não percebem as coisas mais simples. É uma coisa que você vê nos grandes centros mas que em Porto Feliz já existe também: pessoas muito preocupadas com seu próprio mundo, com coisinhas. Eu também acho que as pessoas estão muito assustadas, presas em suas casas, todo mundo acuado.

E ao contrário, o que você leva daqui para fora?
Eu levo talvez o oposto disto. Porto Feliz ainda tem e a gente que é daqui leva uma ingenuidade, uma fé nas coisas, que é fantástico. Você percebe que é a gente que tem, uma coisa muito simples, genuína. Pode ser a base de tudo, de uma carreira, de uma vida inteira, porque é a assim que a gente foi criado. E isso está também no meu teatro, nas coisas que eu escrevo, uma certa singeleza em ver o mundo. Isso é típico aqui de Porto Feliz.

Padre Emílio, da novela Pupilas do Senhor Reitor, é um dos seus personagens de maior reconhecimento. O que significou isso você?
Até hoje as pessoas falam. Eu não escolhi fazer isso. De repente, me convidaram para fazer. As pessoas começaram a me reconhecer como ator, coisa que eu já era há muito tempo.

Fazer uma novela no SBT foi um marco na sua carreira?
Na minha carreira de teatro, nem tanto. Porque é algo que você faz mais passo a passo, mais sólido. Tevê é um pouco efêmera, mas ela marca no sentido da popularidade, de ficar mais conhecido.

Porque grandes talentos não aparecem ou não têm uma chance na tevê hoje em dia?
Na Globo, por exemplo, existe quase um esquema familiar. E eles vão chamando as pessoas que têm esse vínculo, que estão ali à mão. Pode haver outros motivos, claro, como tudo na vida (risos). As pessoas dizem “aquele transa com não-sei-quem”, filhas dos dramaturgos que aparecem nos episódios, filhos de não-sei-quem, essas coisas. Mas o engraçado é que essas pessoas não ficam. Se você tiver paciência para ver, você vê que elas vão sendo descartadas.

Essa situação não incomoda?
É essa coisa que eu estava falando. Na novela das oito, por exemplo, havia uma certa pressão para que a Sheila Carvalho fizesse o papel de uma bailarina. Com tanta atriz bailarina, porque não escolher uma atriz de verdade? Fizeram alguns testes e descobriram a Tânia. Por que Marília Gabriela fazendo novela das oito? Todo mundo sabe que é ruim. Mas isso acontece em Hollywood, em qualquer lugar. Mas se a pessoa vai ficar lá, é o talento que vai determinar. Incomoda de ver que estão privilegiando uma pessoa que não tem jeito.

Como você lida com reconhecimento?
É gostoso, as pessoas têm uma certa proximidade. Mas a falta de medida também incomoda, quando você está num bar às duas horas da manhã tomando uma cerveja e a pessoa vem querendo saber como é um estúdio de televisão. Daí você desconversa ou sai e a pessoa pensa que você é grosso e não percebe que está sendo inconveniente. Por outro lado, você passa na fila do banco, o gerente lhe atende primeiro (risos). Mas é gostoso, porque geralmente as pessoas lhe tratam bem. Você entra na vida e na intimidade das pessoas através da tevê, por exemplo. Como eu, quando conheci Aracy Balabaniam, Eva Wilma.

Por que há tanta falta de incentivo para se fazer teatro?
Porque as pessoas não vêm como produto, como algo que pode ser oferecido e as pessoas gostam. O cinema em São Paulo viveu uma crise, muito mais da sala exibidora do que do cinema em si. Quando se abriram os shoppings e o cinema passou para dentro deles, começou a lotar isso. De domingo não se consegue entrar em nenhuma. As pessoas começaram a perceber que é um negócio rentável e possível de se ter retorno. No momento em que se vê isso, você vai ter um cinema mais forte, um teatro mais forte. E até uma televisão melhor. A tevê Cultura, por exemplo, tinha um teatro ao vivo, uma dramaturgia muito boa, com excelentes peças gravadas, feitas especialmente para a tevê. E foi desaparecendo. Na tevê aberta, veja por exemplo o sucesso que o Sai de Baixo fazia. E o que era aquilo? Teatro filmado. Vira e mexe, ele volta para a tevê. Agora tem um no SBT, que é o Golias quem faz. Todos os sitcoms norte-americanos são teatro, um sucesso absoluto, como o seriado Friends. O público é que dá a dinâmica, deixa tudo vivo. Na tevê, os técnicos é que acompanhavam tudo aquilo. Quando eu fazia novela, eu me lembro de que quando as cenas do Juca de Oliveira eram muito boas, todo mundo aplaudia. O que era aquilo senão teatro? Você não está fazendo para a câmera, mas para as pessoas.

Em todos os seus papéis, algum é preferido?
Todo a vez que faço um trabalho em me envolvo muito. Minha última peça era uma comédia era Geração Trianon, que contava o início do teatro no Rio de Janeiro e dos grandes atores brasileiros. Eu fazia o Leopoldo Froés. Como eu me envolvo muito, não consigo definir minha preferência pelos papéis.

E como andam seus projetos?
Agora vou retomar “Confissão de Leontina”, vou fazer na Secretaria de Cultura em São Paulo. E já tenho convite para vir para Itu. Gostaria também de vir para Porto Feliz, para as escolas. Estou retomando essa coisa da França também, porque no ano que vem tem um projeto lá chamado Ano do Brasil na França. Estou encaminhando o projeto para o Ministério da Cultura. Eu também tenho um filme, que é um projeto meu, que também está na França, está sendo encaminhado. Está na estrada. Era uma peça que virou roteiro. Estou procurando os patrocinadores.

Algum projeto em especial para Porto Feliz?
Na verdade eu gostaria muito de ter um espaço aqui. Mas as últimas tentativas que fiz de vir para cá foram muito desastrosas, com propostas absurdas. A prefeitura, não tenho notícias de que ela vá me trazer para um peça para uma peça ou uma parceria. Eu fiz essa parceria com as escolas, que foi bastante produtiva. A prefeitura me incentivou cedendo a Estação das Artes para fazer. Isso é uma iniciativa particular, minha e das diretoras. Se você mexer com a Secretaria de Cultura do Estado, é um desastre; com a Secretaria de Educação, outro desastre; com a prefeitura, desastre. Agora, se você fala com as pessoas o organiza isso de forma diferente, não tem burocracia. E deu certo.

Há uma movimentação teatral aqui em Porto, alguns grupos que se apresentam. Você acompanha isso?
Eu tenho algumas reclamações que eles fazem de vez em quando. Mesmo que de longe eu acompanho. E eles tem uma dificuldade enorme aqui. Não tem por exemplo, um local de ensaio. A própria Estação das Artes, que é um espaço de teatro, deveria ser do grupo, não é cedida, não emprestam a chave e criam dificuldades. Eu fui até e a fiação de luz está todo destruída e eles culpam o teatro e o teatro culpa a prefeitura. Enfim, é um descaso. Não tem outra palavra.

Você nunca trouxe o “Será o Benedito” para Porto?
Nunca. Eu tentei fazer uma leitura pública mas também não deu certo. Não seria excelente se a prefeitura me trouxesse para uns dois meses de trabalho, montando com atores da cidade a peça? Seria fantástico. Na Semana das Monções ou nas comemorações do São Benedito. Narra a história da cidade. E modéstia a parte eu escrevi uma comédia deliciosa e as pessoas iam adorar ver isso. Eu já fiz uma leitura pública em São Paulo. E aqui não tem como fazer. Eu sou um profissional. Como é que eu venho para cá, sem ter o mínimo de estrutura, de cachê? Querem tudo de graça e ainda acham que você está recebendo um favor deles.

Onde é que você quer chegar?
Eu gostaria muito de me tornar um cineasta. Minha paixão pela dramaturgia surgiu com o cinema e não com a tevê ou o teatro. Aqui em Porto tinha um cinema maravilhoso, com filmes fantásticos. Já molequinho eu ia no cinema, com uns cinco anos. Naquela época a gente não tinha nem televisão. O cinema, na verdade, é um sonho de menino. É muito mais difícil porque eu teria que empreender isso. Mas eu estou indo atrás e sinto que estou oferecendo um material que as pessoas estão olhando. Algo muito interessante que eu gostaria de contar é que meu segundo roteiro de cinema reúne todas as histórias de Porto Feliz, que eu ouvi. Histórias engraçadas, populares, poéticas. O nome do filme é Araritaguaba. Tem por exemplo, a história do cachorrinho Jóia. Toda a vez que tocava o sino ele ia para a igreja e acompanhava todos os enterros. Eu morava na rua Fresca e toda a vez que ele descia, a gente sabia que ia ter velório. Essa história abre o filme.

Nestes seus 20 anos de carreira, o que você que é necessário para se fazer sucesso: sorte ou talento?
As duas coisas. Você precisa estar no lugar certo, na hora certa. Mas uma carreira não se faz de sorte, mas de trabalho. E a sorte ajuda, como tudo na vida.



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Morre ator, diretor e dramaturgo Olair Coan
Por Revista Viu!
Publicado na Revista Viu!
(Extraído de: http://www.revistaviu.com.br/noticias/morre-ator-diretor-e-dramaturgo-olair-coan/20071231115637_K_036)

Morreu na noite de domingo, 30, o ator, diretor, dramaturgo e professor Olair Coan. O acidente ocorreu por volta das 23 horas, no quilômetro 60 da rodovia Castelo Branco, quando o Ford Ka dirigido por Olair se chocou com uma carreta. O ator estava sozinho no carro e morreu na hora.
De acordo com o irmão, Domingos Coan, o corpo foi levado pela Polícia Rodoviária a um centro médico na cidade e São Roque, e posteriormente encaminhado ao Instituto Médico Legal de Sorocaba. O sepultamento está marcado para esta segunda-feira, às 18 horas, no cemitério da Novo.
Olair Coan morava em São Paulo e na noite de domingo vinha para a casa da família na cidade, onde pretendia passar o réveillon. Antes do acidente, ligou para o amigo Fernando Diniz, avisando chegaria à cidade por volta de meia-noite. De acordo com Diniz, o diretor comentou estar trabalhando bastante em uma nova peça com estréia marcada para janeiro.
No mês de dezembro, Olair dirigiu as peças Cenas de Um Casamento, de Ingmar Bergman e Oeste Verdadeiro, de Sam Shepard, protagonizadas por alunos da Escola de Atores Wolf Maya, onde era professor. Em janeiro, atuou em O Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, e em 2006 interpretou Herculano em Toda a Nudez será Castigada de Nelson Rodrigues, com direção de Josemir Kowalic.
No Teatro Amazonas, em Manaus, participou da peça O crime do Padre Amaro, com direção de Darcy Figueiredo, em outubro de 2003. Além de sua contribuição como ator, Olair Cohan também escreveu a peça Estranho Amor, que estreou em 2001, com Walter Breda, Roque Malizia e Eliana Guttman.
Com o monólogo "Confissão de Leontina", apresentado várias vezes me Porto Feliz, o ator recebeu a indicação do prêmio Shell.
A notícia da morte de Coan é destaque nos principais sites de informação do país.




Pedro Moreau

Seu Pedro, "o portador"
Por Jonas Soares de Souza
Publicado na Revista Viu!
(Extraído de: http://www.revistaviu.com.br/colunistas/jonas-soares-de-souza-seu-pedro-o-portador/20040402000000_J_294)

Seu Pedro Moreau sonhou ser sineiro da Matriz Nossa Senhora da Candelária. Mas, não concretizou o sonho. Foi trabalhar de cozinheiro na capital e depois estudar para ser professor. Quem conheceu o professor Pedro José Moreau lembra-se dele como a encarnação do sábio, aquele personagem recorrente nos filmes de aventura. Franzino, cabeleira branca e desordenada, barba por fazer, falar manso, andar curvo como se lhe incomodassem o peso de tantas informações e os conhecimentos. E para completar o tipo, morava como eremita no meio de uma pequena floresta, na Colônia Rodrigo Silva, distante seis quilômetros da cidade.

A casa era pequena e de um lado o telhado quase chegava ao chão. Nos fundos do terreno, um cômodo abrigava uma montanha de edições de O Estado de S.Paulo, revistas, livros de história, obras de Machado de Assis, Jorge Luis Borges, Fernando Pessoa, Antero de Quental, François Rabelais, François Chateaubriand, Victor Hugo e Ítalo Calvino. Ali ele recebia curiosos, alunos do “colegial”, universitários, pesquisadores e jornalistas. Quando perguntado sobre algum assunto, seu Pedro abria a porta do tesouro para pinçar determinada publicação. O mato se esforçava para manter a porta fechada, mas o dono do tesouro dominava segredos apropriados e a porta cedia. Aberta a porta, aquilo era um emaranhado de pastas e brochuras, mas ele, certamente por mágica, retirava a publicação conveniente. Nas paredes esburacadas, três quadros com fotografias emolduradas de belas igrejas: um trazia a fachada flamejante (flamboyant) da Igreja de Notre-Dame de L’Épine, em Épine (Marne, nordeste da França); outro a Catedral de Sevilha com a torre Giralda; e o terceiro quadro, o Largo e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária. Cada um dos quadros trazia o título – Por quem os sinos dobram?, e, logo abaixo, a frase do livro As Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino – “De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.”

Seu Pedro gostava de conversar sobre a formação histórica de Itu, a vida de seus padres ilustres, a edificação de seus conventos e igrejas. Aí estava incluída freguesia de Araritaguaba, que pertenceu a Itu até alcançar a condição de vila, com o nome de Porto Feliz, em 1797. Quando alguém perguntava sobre a Matriz de Itu, abria a porta do casebre e retirava uma pasta gorda com escritos próprios, livros e artigos de Chiquito Nardy, publicados no Estadão e nos jornais locais. A qualquer pessoa que o visitasse, alongava a prosa até o entardecer. Quando escurecia, apontava para o clarão sobre as arvores ao norte: não ouço os sinos, mas vejo as luzes da cidade da Igreja da Candelária. E recitava o cântico de Simeão, que tomou nos braços o menino Jesus e bendisse a Deus dizendo: “Agora, Soberano Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste em face de todos os povos, luz para iluminar as nações, e glória de teu povo, Israel” (Lucas 2: 29-32).

Seu Pedro apreciava as sinfonias de Anton Brucker, verdadeiras “catedrais sonoras”, ele dizia; conhecia profundamente literatura francesa e italiana, sabia de cor trechos imensos das obras de Ítalo Calvino e dominava o francês, italiano e latim. O francês ele aprendeu com o pai, natural de Charleroi (Bélgica), o italiano com a mãe, e o latim no seminário de Botucatu. Na realidade, ele era um autodidata muitíssimo competente. Cometeu alguns poemas, mas o bom mesmo era a sua prosa deliciosa cheia de citações, referências bibliográficas e chaves para os enigmas do conhecimento. Os intolerantes “engajados”, talvez com uma pitada de inveja, diziam que a sua erudição era “datada”. Os eternos estudantes tinham nele uma fonte inesgotável de aprendizado. Seu Pedro vinha com freqüência a Itu para dar aulas de latim ao doutor Adilson Rodrigues, promotor público e professor na Faculdade de Direito. Remunerar as aulas foi a saída que o doutor Adilson encontrou para, discretamente, reforçar os minguados proventos daquele sábio orgulhoso. Depois das aulas, seu Pedro aguardava no Museu Republicano as badaladas dos sinos da Candelária. Hora de ouvir missa. Certa vez encontrou-se com monsenhor Ferrarini, que estava na calçada lateral à matriz para benzer um carro novo estacionado em frente ao portão da casa paroquial. Seu Pedro acompanhou o ato religioso informal e depois puxou prosa com o monsenhor. Falou dos projetos de vida não realizados, primeiro o de ser padre, depois, o de ser chefe de cozinha, músico, professor e por último, o seu sonho juvenil de ser sineiro: – eu queria dominar a linguagem simbólica dos sinos, aprender a chamar os filhos da igreja à missa, comunicar os bons e maus presságios, os bons e maus acontecimentos. O monsenhor sorriu e, com aquele sotaque peculiar, fez a oferta – Seu Pedro, ainda é tempo. Os sinos da Matriz estão às ordens! – Meu bom monsenhor, disse seu Pedro, já estou na casa dos setenta, e nesta altura da vida me considero ser tudo o que sonhei sem nada ter sido.

Pedro Moreau colecionava histórias sobre sinos. Nessas histórias, ora eram sinos que alertavam moradores das cidades costeiras sobre a aproximação de piratas e corsários, ou então, os sinos tangiam para avisar povoados coloniais sobre o perigo de revides indígenas; ora os sinos tangiam para denunciar a iminência de ataques de holandeses, franceses e ingleses que infestavam as costas do Brasil. Ou então os sinos badalavam para celebrar vitórias ou a coroação de alguma majestade. Nas crônicas de Afonso Schmidt, incluídas no livro São Paulo de meus amores, ele encontrou uma de suas histórias prediletas – “O sino do povo”. No final do século XVII, os moradores de São Paulo reclamavam contra a escassez de moedas e os inconvenientes que daí decorriam. Os vereadores pediam aos negociantes que, depois de vender suas mercadorias, gastassem em São Paulo mesmo o produto de seu comércio, para não aumentar ainda mais a falta de dinheiro. De nada adiantou o apelo dos oficiais camaristas. O descontentamento popular explodiu no dia 3 de agosto de 1692. Nesse dia, “ouvindo tocar o sino do povo, acudiram juízes e vereadores”. O povo já estava reunido na praça. Uma autoridade perguntou: quem está tangendo o sino do povo? Era um menino. Os juizes fizeram-no descer da torre e o trancafiaram numa cela. A tensão aumentou, o povo amotinou-se e os vereadores foram obrigados a tomar medidas enérgicas.

Pedro Moreau foi entrevistado pela jornalista Irene de Matos para o caderno “Gente” do jornal Periscópio. Em momentos diferentes também o entrevistaram os professores Eddy Stols, Alberto Vieira, Cláudio Maffei, Claudionor Baús e Maria Elvira Moura Siqueira. Em uma dessas entrevistas revelou que o sonho de ser sineiro da Matriz o fez estudar a origem dos sinos e instrumentos musicais. As antigas culturas responderam com simplicidade esse problema complexo da origem dos instrumentos musicais: o instrumento é dádiva dos deuses porque a música tem origem divina. Os sons produzidos materialmente tinham poder sobre as forças cósmicas e o desconhecido. Os primitivos australianos, por exemplo, atribuíam a criação do mundo ao som de um tambor. O antropólogo escocês James George Frazer, no livro O ramo de ouro, analisa as fases de pensamento na história da humanidade e pergunta se a música e os sons dos instrumentos, nessa fase mágica, se propunha a atrair ou a expulsar os espíritos malignos. De qualquer forma, os sons eram produzidos com finalidades mágicas e religiosas e os instrumentos musicais em parte criados para enfrentar os desafios cósmicos.

O cristianismo percebeu o poder desses sons produzidos materialmente e tratou de recusar a presença de suas fontes nas reuniões da igreja. Os instrumentos foram banidos do culto, onde deveria reinar soberana a voz. Foram permitidos os sinos e campainhas, que marcavam os principais momentos da liturgia, e mais tarde o órgão. Nos primeiros séculos de existência os cristãos manifestaram aversão aos templos, altares e imagens. O serviço religioso realizava-se em casas particulares. Mas aos poucos começaram a procurar construções espaçosas que satisfizessem as condições de uma clara orientação para o altar, a cadeira do bispo e o lugar dos sinos. Na experiência construtiva dos romanos o que melhor correspondeu às necessidades dos cristãos foi o edifício da basílica forense, cuja planta serviu de base ao modelo da basílica cristã. As torres (campanile) só são acrescentadas mais tarde e ficavam afastadas do coro da igreja. Na Alta Idade Média, a regeneração política da Europa a partir dos fins do século X, relacionada à penetração do ideal cristão em todos os domínios da vida, produz um surto arquitetural espantoso. Os esforços são concentrados na construção de igrejas, catedrais, conventos e castelos. Entretanto, predomina a construção sacra. Na concepção do mundo do homem românico o poder do imperador é uma imagem de onipotência de Deus. As igrejas monumentais, as fortalezas de Deus, se assemelham então a uma coroa imperial. Os clérigos e monges trabalham quase que exclusivamente como arquitetos, pedreiros, canteiros e pintores. Surgem as magníficas catedrais góticas, que satisfazem as aspirações formais dos homens da Alta Idade Média. A construção dessas igrejas monumentais obedece a complicados sistemas de alegorias, exemplarmente demonstrado na catedral de Chartres. Elas buscam a verticalidade, suas torres querem alcançar o céu. Os sinos ganham as alturas.

O Renascimento, apesar de impossível definir um conceito único para toda a Europa, é fruto de uma nova concepção do mundo que forja a imagem de um homem desejoso de substituir o Deus da Idade Média pelo homem como medida de todas as coisas. Enfraquece a tendência para o verticalismo e a expansão em altura. A forma ideal da construção sacra é, para os grandes teóricos, a construção da planta centrada, encimada por uma cúpula. No Barroco, as dimensões grandiosas das construções, as formas exuberantes, a divisão dos espaços e o esplendor da decoração proclamam a autoridade da Igreja e do Estado. O iluminismo e a Revolução Francesa explodiram a forma de vida que sustentou o Barroco. Nas décadas finais do século XVIII o estilo, no sentido de massas arquitetônicas cheias de força e movimento, já era considerado como falta de gosto nos salões franceses. Uma vez que a igreja e a aristocracia foram destituídas da função de definidores da cultura predominante, a construção de templos deixa de ser, pela primeira vez, a tarefa mais importante da arquitetura e determinante dos estilos arquitetônicos.

Entre nós, até a proclamação da República, a Igreja esteve ligada ao Estado. Essa realidade institucional conformou o aparecimento dos primeiros núcleos de população e a consolidação da nossa rede de cidades. O arquiteto Murillo Marx, estudioso da cidade brasileira, afirma que todo lugarejo viu sua incipiente ordenação jurídica refletida, na sua frouxa disposição física inicial, disposição relativa de suas primeiras casas, de seus quintais e de suas passagens comuns, com certeza de uma ermida ou capela. Não bastava erguer a ermida. Era necessário oficializá-la. A institucionalização da vida dessas povoações se dava pela oficialização de sua ermida, de sua capelinha, pela sua elevação um dia à matriz, elevação que significava a ascensão ao novo status de paróquia ou freguesia. Isto não significava apenas o acesso à assistência religiosa, mas também o reconhecimento da comunidade de fato e de direito perante a Igreja oficial, portanto perante o próprio Estado. Além do batismo, casamento e sacramentos na morte, obtinha-se também a garantia do registro do nascimento, de matrimônio, de óbito, registro oficial, com todas as implicações jurídicas e sociais. O local da igreja matriz é sempre aquele ponto geograficamente destacado e um terreno generosamente amplo. E desse ponto privilegiado, os sons dos seus sinos poderiam chamar todos os fregueses, os filii ecclesiae, os filhos da igreja.

Seu Pedro defendia a idéia de que o alcance do som dos sinos deveria servir de base para o critério de definição de pertencimento a esta ou aquela freguesia. Por exemplo, seriam membros da paróquia da Candelária quem morasse na área abrangida pelo som dos sinos da sua Matriz. Loucura, idéia estapafúrdia? Nem tanto se lembrarmos que para os empedernidos tradicionalistas de Londres somente quem nasce até onde é possível ouvir os sinos (Bow Bells) da Igreja St. Mary-le-Bow é considerado cockney, isto é, nascido na city de Londres.

Por quem os sinos dobram? Os sinos dobram por todos aqueles que, como seu Pedro, alimentam sonhos singelos, assumem sem traumas eventuais falhas, respeitam o diferente, repartem conhecimentos e são seres “portadores”, isto é, seres que “iluminam bruscamente os cantos escuros do entendimento e, unificando os sentimentos desparelhados, revelam possibilidades de uma existência mais real”, como escreveu Antônio Cândido de Mello e Souza em O portador.




Seu Romário ensinou mais de 1500 alunos na cidade

Com a vênia do leitor, vou contar essa história na primeira pessoa. Conheci Romário Antonio Barbosa quando tinha 13 anos. Eu era um desses moleques que, quando fora da escola, vivia a correr atrás da bola. Seu Romário, já com seus mais de 60 anos, era um abnegado professor de música, que lecionava sentado em um caixote improvisado como banco no antigo barracão do Michetti, atrás do campo União. Uma tarefa que ele repetia religiosamente, dia após dia, com a missão de formar novos músicos para a Banda Bandeirantes. 
Depois de três sugestivos convites, aceitei a ser um deles. Seu Romário me passou a primeira lição na frente-e-verso de uma folha de caderno de pautas musicais. Deu-me uma semana para decorar o nome das notas, pausas, tempos e compassos, tudo escrito de próprio punho com bico-de-pena e tinteiro. 
Começava aí uma história que se desenrolaria por meses e anos a fio. Dia sim, dia não, encontrava-me com Seu Romário para minhas aulas de música. A princípio, praticava lições de solfejo, acompanhando o seu canto rouco, sob a regência de sua caneta bico-de-pena, que fazia às vezes de uma batuta. 
Era assim com todos os alunos, que chegavam a ultrapassar a casa das dezenas. Seu Romário ensinava a todos com uma paciência descomunal. Não aprendíamos apenas música; era uma verdadeira lição de vida, regida com exemplos de disciplina, determinação, caráter, humildade e perseverança praticadas com intensidade jamais vista antes em toda minha vida.

A trajetória - Entre uma aula e outra, fui conhecendo um pouco da trajetória de vida do abnegado Romário. Descendente de escravos, trabalhou como lavrador, cozinheiro e operário, antes de descobrir sua vocação musical. Uma descoberta, aliás, bastante pitoresca, sobretudo pela importância que ele viria a representar na história da formação de novos músicos da cidade.
Quando tinha 20 anos, Romário comprou um livro que ensinava a tocar violão e aí começou o interesse pela música. Aos 25 anos, formou um conjunto musical que abrilhantava festas e bailes da região. O grupo era formado pelo irmão Tate, João Xará, Borrachinha, Cidico, e Benedito Cristalino, cuja voz parecia cristal.
Foi depois dos 40 anos de idade, porém, que Romário encontrou definitivamente a sua carreira musical, quando já estava aposentado da antiga Fábrica de tecidos. Inseguro com os desafios da teoria, fez uma promessa ao seu santo favorito, São Benedito: se conseguisse aprender, iria repassar os seus conhecimentos gratuitamente. Um homem com o caráter de Romário não deixaria de quitar tal promessa. Formou mais de 1500 músicos, dos quais muitos se tornaram profissionais e ganharam a vida com a música. Eu fui um deles!

O mestre - Ao todo, foram quase 50 anos lecionando. Quando não estava no barracão do Michetti, Romário recebia os alunos em sua própria casa, na Vila Cruzeiro. Por vezes, também ia à casa dos alunos. Só andava a pé, sempre na maior boa vontade.
Se o aluno tivesse instrumento, muito bom; se não, Romário os emprestava da Banda Bandeirantes. Fui um desses beneficiários. Depois de minhas primeiras aulas de teoria, recebi um bombardino velho para aprender a “embocadura”. Foi nele que estudei com afinco até tocar o meu primeiro dobrado, sob a batuta do bico-de-pena do velho Romário.
Mais tarde, quando já me profissionalizava no Conservatório de Tatuí fui entender o significado de todo o sacrifício. “Quem não se contenta lambendo, nem comento”, exemplificou-me, um outro professor.

O estilo - Autodidata, Romário tinha os seus próprios métodos de ensino. Todas as lições ficavam em sua cabeça e ele as transcrevia na hora, na frente dos alunos. O grau de dificuldade ia crescendo de acordo com o desempenho dos aprendizes. Nunca soube, porém, do caso de alguém ter abandonado o aprendizado por falta de incentivo do mestre. Romário acreditava em todos, indistintamente.
Fora da bancada, Romário mantinha um estilo próprio e inconfundível. Atravessava a cidade indiferente ao Sol 40 graus, com seu chapéu panamá de abas curtas, camisas de mangas longas e uma inseparável pastinha bem protegida sob os braços.
Era impressionante a destreza com a qual Romário escrevia partituras. Passei anos de minha vida tentando copiá-lo. Não cheguei nem perto. Romário transcrevia em minutos um dobrado que copistas profissionais levariam horas. Uma agilidade evidenciada pelo manuseio da caneta-tinteiro. Coisas de mestre!

A família - A generosidade de Seu Romário podia ser notada em sua família. Casado com Lucila Alves de Oliveira, criou três filhos: Marilena, Carlos e Tânia (os dois últimos adotados). Na casa sempre cheia de alunos, Romário ajudou a criar quatro sobrinhos (Maria de Lourdes, Beatriz, Sérgio e Israel). 
Nascido em 29 de maio de 1913, Romário veio a falecer 18 de fevereiro de 1999. A filha Marilena diz que o pai se sentiu muito deprimido após o falecimento do filho Carlinhos, vítima de um acidente de automóvel na Rodovia Castelo Branco.
Carlinhos foi o único dos filhos que seguia carreira musical. Também o conheci de perto, quando estuda em Tatuí e, mais tarde, quando trabalhamos junto na orquestra do Sargentelli, no Plataforma I, em São Paulo. Sempre alegre e disposto, realmente deixou saudades. 

A homenagem - Quando Romário era vivo costuma ouvir das pessoas que ele merecia um busto na cidade. O próprio Romário deve ter ouvido inúmeros elogios ao seu trabalho e à sua conduta. O busto, porém, nunca veio. A principal referência à sua importância foi emprestar o seu nome à escola de música da cidade. O nome foi outorgado em 1999, por sugestão do atual prefeito Cláudio Maffei.

Simone Prado, a vereadora mais votada da cidade
Publicado na Revista Viu!
(Extraído de: http://www.revistaviu.com.br/noticias/simone-prado-a-vereadora-mais-votada-da-cidade/20041210000459_R_490)

A médica pediatra Simone Habice Prado Mattar, 49 anos, é o que se pode chamar de uma pessoa vencedora. Há alguns meses ela teve uma reviravolta em sua vida pessoal e profissional, lutando contra um grave câncer no pâncreas. Foram oito meses afastada da cidade, envolvida em um tratamento intensivo contra a doença. Da adversidade pessoal, assistida de perto por toda a família, ela passou para uma conquista inédita na vida pública: foi a vereadora mais votada das eleições deste ano, com 1.170 votos. Antes dela, apenas outro médico havia sido tão “bom de voto” em Porto Feliz: Antonio Pires de Almeida o Dr. Antoninho, com 1.041 votos em 1972. A expressiva votação, conta, foi uma enorme surpresa para quem não fez campanha agressiva, distribuiu poucos santinhos e nem se preocupou em pedir votos. “Eu jamais pensei que fosse ser eleita!”, confessa. A candidata do PL, que já foi eleitora do PT, revela um coração tucano. “Eu sou viúva do Covas, do Franco Montoro. Adoro todos eles”, brinca. A médica será a única mulher na Câmara de Porto Feliz e afirma que vai lutar pela cidade, independente de partidos políticos. Aos que negociam o voto, ela dá um aviso: “Preciso ser convencida a votar. Comigo não tem barganha”.

Da onde veio a decisão de entrar na vida política?

Ocorreu há dois anos. Eu sempre trabalhei em posto de saúde e um ano antes de eleição você já vê um monte de candidatos por lá, que fazem política na saúde. Na verdade é a gente que trabalha, que atende 30 pacientes por manhã e eles fazem política com o nosso atendimento. Teve um dia lá no posto que eu falei: “Eu sou a próxima candidata a vereadora. Chega, cansei”. O pessoal morreu de dar risada. Por pura coincidência, logo encontrei com Toninho Aranha e Seu Erval e brinquei: “Tem vaga no PL? Quero me candidatar”. Depois de uns seis meses fiquei doente e me afastei. Quando voltei, o Toninho me ligou perguntando se eu ia sair ou não. Ele insistiu e eu aceitei. Me penitenciei por uns dois meses, me perguntando por que eu havia entrado nisso.

Esse uso da saúde para fazer política a incomodava?

Eu sempre trabalhei na saúde e via que muitas coisas poderiam ser realizadas pelos vereadores, sem o clientelismo. Essa política de clientelismo me deixava um pouco irritada porque não se pensava na saúde como um todo. A gente tem que pensar grande, em grandes realizações, mas para a cidade como um todo. Não é o “vou te dar uma consulta e você vota em mim” ou um vidro de remédio. Acho que a pessoa pública tem que ser reconhecida pelo que ela faz no todo e não individualmente. A minha vontade era ser vereadora para tentar fazer alguma coisa. A gente é daqui, fui estudar fora e voltei. Sempre batalhei muito, principalmente na minha área de pediatria, fazendo cursos, tentando aplicar aqui na cidade, para progredir os nossos índices. Mas, Porto Feliz parece que tem meio medo de ousar. Até por isso, por esse trabalho, de saber lidar com a população, eu sou muito querida. Agora eu percebi o quanto sou querida. Não esperava isso.

A senhor ficou surpresa com sua eleição?

Sim, fiquei. Não esperava essa votação. Eu contei votinho na véspera e pensei: “Vou ter uns 250 votos”, baseada em quem disse que ia votar em mim. No Colégio, no dia da eleição, tive 125 votos. Pensei: “120 votos mais quatro escolas... Vou ter uns 400 ou 500 votos. Talvez eu até seja eleita”. Esqueci que tinha muito mais e fui embora para a minha casa. Logo me ligaram dizendo que eu era a vereadora mais votada. Foi uma grande surpresa. Os mais velhos de política achavam que ia ser isso mesmo. Achei que falavam isso para me agradar. Eu ficava pensando que não tinha como, pois ninguém falava que ia votar em mim, pois nem fiz campanha. Eu andei dois dias no Vante, dois na Popular e um na Vila Maria. E fui mesmo para dar uma força para o prefeito Erval, para marcar presença, a gente tinha que trabalhar junto.

Essa votação aumenta a responsabilidade?

Sim, muito. Fico até preocupada. Agora eu falo que não tive mil votos, tive 10 mil. Os 10 mil que votaram em seu Erval vão me cobrar.

Qual a sua afinidade com o prefeito Erval?

Foi mais nesta última gestão. Na primeira, tivemos alguns contatos, mas a relação do seu Erval com os médicos foi meio espinhosa. Agora, nesta segunda gestão, acho que pelo Cássio ser o diretor de Saúde, tive mais contato. A gente tinha uma ligação anterior, como pessoa, era muito amigo da minha mãe. Respeito-o muito como pessoa, como homem público, pai de família e ser humano maravilhoso. Falavam que ele era muito centralizador e eu também tinha essa idéia dele. Agora vi que não é. Acho que se ele tivesse sido mais centralizador teria até ganhado a eleição.

O estilo de Erval fazer política é um modelo para a senhora que está começando agora?

Não, não é. Acho que não existe isso, não tem isso de modelo. A gente não pode seguir assim, porque cada um é de um jeito diferente.

Como a senhora planeja sua atuação na Câmara?

Nunca fui vereadora, nunca fui política. Agora, por exemplo, estou me inteirando da lei orgânica, lendo e conversando bastante com pessoas de maior experiência.

Como a senhora viu as outras composições da Câmara?

Eu achei que tinha um nível muito bom. Essa que foi eleita agora eu não conheço, a não ser o pessoal do PL, Gerão e Miguel. O resto não conheço.

É mais fácil para profissionais da área de saúde, ainda mais em cidades do interior, entrar na vida pública? Não há também um certo clientelismo, aproveitando-se dessa relação que existe entre médico e paciente?

Para mim, não. Um dos motivos que eu achava que não seria eleita é porque estava há oito meses fora da cidade e um ano fora do posto. As minhas maiores amizades e clientes eram do posto. Eu gosto demais de trabalhar nos postinhos de saúde, por causa dessa relação com o público que necessita mais da nossa atenção, do carinho. Até comentaram comigo que eu era a mesma aqui, no posto de saúde, no consultório ou no hospital. Acho que isso é coisa de portofelicense, de gente que é daqui. É tudo de casa, é tudo igual, sem diferenças.

E lá na Câmara, a senhora vai ser a mesma também?

Sim, claro. Foi o que eu falei. Vou trabalhar por Porto Feliz, independente de partido. No que for bom para a cidade eu estarei junto, dando a maior força, lutando.

O que a senhora espera realizar como vereadora?

Eu vou devagar. Tenho vontade de um monte de coisas. Mas vereador não pode realizar nada, só o prefeito. Isso é uma cultura que a gente precisa tirar do povo, para saber realmente qual a função do prefeito.

O que a senhora achou da eleição do Cláudio Maffei, o primeiro representante do PT no executivo?

Eu gosto muito do Maffei, como pessoa. Já fui eleitora do PT por muito tempo. Me desiludi um pouco com o governo Lula na área de saúde. Quando o Serra entrou eu achei que ia ser uma lástima porque ele não era médico. E ele foi um ótimo ministro. Daí entrou o PT e começou a bagunça. Mas como Maffei está falando que é do Partido de Porto Feliz, eu fico na esperança.

Mudança é a bandeira do Maffei. A senhora acha que realmente precisa mudar a forma de administrar a cidade?

Talvez. Em algumas área talvez tenha. Ele estudou, ele analisou melhor todo esse tempo e por isso está falando isso. Não sei, não sou muito otimista quanto a isso, não. O Lula também disse que ia mudar e está seguindo a mesma linha do PSDB, principalmente na economia. Em Porto Feliz eu acho que em algumas áreas precisa mudar, como empregos, segurança, turismo. São coisas que a gente precisa desenvolver mais. A Educação vem caminhando bem desde o governo Léo, sem desestruturação. A Saúde estava um caos e agora está estruturada. A gente não pode voltar para traz, temos que andar.

Em hipótese, se o seu partido decidisse assumir na Câmara uma postura que contrariasse suas convicções pessoais, a senhora votaria com o PL?

Se surgir uma situação assim, vamos ter que discutir muito. Vou ter que ser convencida a votar junto com o partido. Eu sou mais eu. Se você me convencer eu vou do seu lado. Comigo não tem barganha. Eu sou muito exata nas coisas. Um dia me disseram que eu deveria ter sido juíza, advogada, porque tenho um senso de justiça apurado. O que é certo é certo.

Quem foram as pessoas que votaram na senhora?

Acho que muitos pacientes. Fiquei admirada e assustada. Meu pai morreu há um tempão e quase não ouço mais falar de papai, a não ser um paciente mais antigo. Um dia depois da eleição, veio um pessoal mais idoso me cumprimentar e me disseram: “Eu votei em você por causa do seu pai”. Era algo que eu não esperava.

Depois dessa votação expressiva, conquistada sem uma campanha acintosa, dá para pensar em algo mais ambicioso?

Não, não sei o dia de amanhã. Me falaram que eu iria amar ou odiar a política. Se eu amar eu faço carreira; se não, nunca mais. É cedo para falar. Vai depender muito da minha saúde. Tem muita gente torcendo para eu morrer logo (risos). Eu acho que não estou por acaso nisso. Estou apreensiva e ansiosa para me inteirar das coisas.

Qual o seu estado de saúde hoje?

Hoje estou bem. Eu tive um câncer de pâncreas muito grave, o pior de todos em gravidade. Tive uma margem cirúrgica boa. Eu sou médica e sei de todos os riscos. Fiz quimioterapia, fiz radioterapia, e reagi muito bem, não perdi cabelo, não tive reação alguma. Agora estou controlada. Em dezembro faço exames e vou levando. Os meus médicos estão vibrando com a minha vitória.

Surgiram vários boatos no período eleitoral, inclusive de que a senhora estaria usando a doença para se promover politicamente. O que a senhora acha disso?

Não, nunca usei de modo algum. Se eu tivesse usado a doença para isso, tenho certeza que teria tido muito mais voto. No hospital, recebi muitas cartas, tenho uma sala cheia de cartas de criança. Você não imagina! Quando eu tive alta, tinha quase 100 dúzias de rosas na minha casa. Não sabia que era tão querida assim. Acho que fiquei em estado de graça na minha internação porque o povo daqui estava torcendo por mim e orando. Não usei minha doença em hipótese alguma. Fui até convidada para dar meu testemunho nas igrejas evangélicas da cidade e não fui porque era candidata. Para ninguém falar que eu estava usando de minha enfermidade para me eleger. Mesmo porque eu não estou doente. Estou curada, por enquanto. Tanto, que estou trabalhando.

Como a senhora recebe esse tipo de comentário?

Acho que são de maus perdedores, de gente que teve medo de mim. Eu não fiz nada, nem pedi voto. Não era do meu feitio pedir voto. Eu tinha certeza de que haveria esses comentários.

Como a senhora avalia a administração do seu irmão na Saúde?

Acho que ele fez uma boa administração. O Cássio pegou a Saúde acabada e conseguiu estruturar tudo. Nosso índice de mortalidade neonatal era indecente, 22 crianças por mil; hoje nós estamos com cinco, esse ano acho que foram duas. Uma coisa maravilhosa. Mudou o perfil de mortalidade na cidade, de causas de óbito, para crianças e adultos. Ele conseguiu muitas coisas, os especialistas, a Santa Casa está maravilhosa. Hoje tem condições de trabalhar, antes era o coitado do médico sozinho lá. Quem segurou a saúde da cidade foram os três heróis: Cássio, Fernando e Barbosa. Porque não tinha ninguém para dar plantão, com pagamento atrasado os médicos de fora não vinham mais.

Alguns candidatos falaram em construção de UTI para a cidade. A senhora acha que Porto tem condições para isso?

Porto Feliz precisa de UTI, é necessário. As cirurgias que estão saindo daqui ficam sem o pagamento do SUS se não houver retaguarda de uma UTI. Só pagam as básicas. A ponto de uma retirada de vesícula, mais complexa, não poder ser feita aqui, coisa que a gente fazia há 10 anos atrás. Então, está indo gente daqui para operar fora. Em segundo lugar, um hospital com UTI muda de complexidade e muda de nível. Tendo na Santa Casa, o SUS vai pagar mais pelas internações, quase o dobro. Nós vamos poder ter mais pacientes internados e Porto Feliz poderia ser referência para as cidades vizinhas porque falta vaga no interior.

Mas isso não pode ser um problema? O custo de manutenção de UTI é caro. Porto Feliz teria que arcar com esses custo e não teria demanda.

Mas o SUS paga por isso. Porque a internação sobe mais. O problema da Santa Casa hoje é leito vazio. Estão correndo atrás de internação para dar quota porque senão não recebem dinheiro. Graças a Deus. Para a diretoria é ruim, mas para a cidade é ótimo e significa que o nível de saúde melhorou e ninguém se interna. Agora, se a gente vira uma referência de UTI, tem paciente de fora que vem para cá, vai ocupar o leito e dar dinheiro para a Santa Casa.

A senhora disse que a saúde estava um caos na época de Léo Rogado. Isso, mesmo tenho um médico na prefeitura?

Sim, estava bagunçada. Ele centralizou tudo, clínico, dentista. A começar do pré-natal. Você via o número de consultas que as gestantes faziam. As mães não saiam do Vante para ir fazer consulta no Bezerra. Com quem elas iriam deixar os filhos? Quem ia pagar circular para elas? Agora elas têm um postinho lá do lado. O Léo instituiu o Programa Saúde Família, o pessoal gosta muito, um sistema bom. Particularmente eu não gosto. Isso foi bom, mas a centralização não funcionou.

O que a senhora acha do atual prefeito não querer fazer transição?

Acho que é um direito dele, não há lei para fazer transição.

A senhora acha que a cidade deveria ter uma outra visão desse relacionamento político, pensando-se na coletividade, colocando a cidade acima dos interesses partidários?

Esse é um problema do seu Erval com o Maffei, é um problema de professor para professor (risos). O professor Erval também pegou a prefeitura sem transição.

Mas o Dr. Léo deu abertura...

Ah, “abriu”. Na Diretoria de Saúde não tinha nem senha para entrar no computador! Tenho absoluta certeza que isso não vai acontecer agora. Mas, entendo a posição do prefeito Erval e do Maffei.

Porque a opção pelo PL?

O meu partido de sonho, que sempre gostei, não foi o PL. Foi o PSDB. Antes era o PT. Eu sou viúva do Covas, do Franco Montoro ... (risos). Adoro todos eles. Mesmo o Serra. Não sou muito de partido. Já votei no Genoíno, no Suplicy e vou mais por idéias. Adoro o Suplicy, gosto muito dele. Mas odeio a Marta, acho que pela figura dela, botox, Zé Simão (risos). No PL eu gosto muito do Valdemar (Costa Netto), amigo do meu tio lá de Mogi.

Fonte:  Revista Viu!

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Vereadora Simone Habice Prado morre aos 51 anos
Publicado na Revista Viu!
(Extraído de: http://www.revistaviu.com.br/noticias/vereadora-simone-habice-prado-morre-aos-51-anos/20060904001622_K_131)

A vereadora e pediatra Simone Habice Prado Mattar, 51 anos, faleceu na manhã desta segunda-feira, 4, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internada havia meses para tratamento de câncer no pâncreas. Simone era casada com o também médico Álvaro Mattar, com quem teve um filho, Guilherme. O corpo da presidente da Câmara será velado na Câmara Municipal a partir das 15h. O enterro deverá ocorrer amanhã, terça-feira, 5, mas ainda não há definição da família.
Pediatra muito conhecida na cidade, Simone tinha uma forma gentil de atender seus pacientes, que a consideravam uma médica carismática. Os colegas de trabalho também a tratavam com muita admiração (veja aqui)
Iniciou-se na política na última eleição, em 2004, a convite do ex-prefeito Erval Steiner, e foi eleita a vereadora mais votada da história da cidade, com 1170 votos, pelo Partido Liberal.
Em entrevista à Revista Viu! (aqui), em novembro de 2004, Simone falou que vinha enfrentando o câncer no pâncreas e revelou ser admiradora confessa do tucano Mário Covas. No ano passado, quando surgiram as denúncias envolvendo o presidente do PL, Waldemar Costa Neto, Simone se transferiu para o partido do "seu coração", o PSDB.
Em pouco mais de um ano atuando como vereadora, Simone se destacou por ser uma vereadora aplicada. Gostava de analisar minuciosamente os projetos e foi uma das principais articuladoras da oposição.
Assumiu definitivamente a presidência da Casa no início de 2005, depois de confirmada a cassação do vereador Valter Rodrigues "Saci".
Simone também era vice-presidente do Porto Feliz Tênis Clube.



A saga de uma guerreira
Publicado na Revista Viu!
Descendência alemã por parte de pai e americana por parte de mãe, Susie Rehder, hoje aos 67 anos, se refugia em um casarão construído no século 19 em meio a uma vegetação exuberante e muitas histórias. São 130 alqueires de herança paterna, na estrada de Boituva. De lá, Susie parte para atuar voluntariamente em várias frentes. Amigável e simpática, ela não dispensou seus cigarros e a emoção ao compartilhar suas histórias com os leitores da revista.

Como a senhora e sua família vieram parar em Porto Feliz?

Nós morávamos numa fazenda em Piracicaba. Em 1945, meu pai, Hans Rehder, comprou esta fazenda dos Castelucci, que se chamava Fazenda do Moinho. Em 1950, minha mãe mudou-se para cá. Eu e minha irmã Addy ficamos no internato do Colégio Piracicabano. Minha irmã mais velha, Elsie, foi para São Paulo estudar no Mackenzie. Nós só vínhamos para a fazenda nas férias, Páscoa e em setembro. Nós saíamos de Piracicaba às 7h30 da manhã de ônibus e chegava aqui na fazenda às 4 da tarde. Naquela época, nós freqüentávamos muito pouco Porto Feliz. Gostávamos de ficar na fazenda, principalmente porque a casa enchia de primos e amigos da nossa idade. Não freqüentávamos baile de Réveillon, também nunca fomos muito festeiros. Natal e Ano Novo era sagrado passar em família. 

Como a senhora entrou para a área da Educação?

Quando terminei o colégio em Piracicaba, em 1954, viajei e fiquei cerca de oito meses estudando na Suíça, na Universidade de Basiléia, na área de Educação Pré-Escolar. Quando voltei, dei aula durante um ano na escolinha rural que havia aqui da fazenda. Tínhamos três séries numa classe só. Era uma festa, porque na época tínhamos muitas crianças na colônia. Depois, dei aula de História em Porto Feliz, como professora substituta. Até hoje encontro pessoas que foram meus alunos naquela época.

E depois?

Em 1957, fui trabalhar em São Paulo, no Centro Regional de Pesquisas Educacionais que era do Ministério da Educação. Pelo trabalho de lá fui fazer o curso de comunicação, ligada à Educação. Em 1959, fui para Indiana (EUA), onde fiquei um ano cursando a Indiana University. Depois de oito anos, achei que deveria voltar para me reciclar. Mas dessa vez (em 1967) fui para Los Angeles, na University of Southern Califórnia, onde fiquei mais um ano. Depois de um ano voltei a trabalhar no Ministério da Educação. Saí para ir montar um setor no Senai, mas não fiquei e voltei para o ministério. Daí, fui para a Delegacia do MEC, em São Paulo. Trabalhava na área de supervisão e inspeção de Ensino Superior.

Quando voltou para a fazenda?

Voltei para cá em 83, depois que meu pai faleceu. Nessa época eu ainda não havia me aposentado e comecei então a trabalhar visitando faculdades da região: Sorocaba, Tatuí, Itapetininga, Itapeva e Itararé. E ia para São Paulo uma vez por semana, dar plantão na delegacia, levar e receber material das faculdades. Isso eu gostava de fazer. Em 86, tive que voltar para São Paulo e fiquei mais um ano. Mas não me acostumei de novo, então voltei para cá e retomei o trabalho de visita às faculdades até 1990, quando me aposentei e foi quando nós tínhamos começado a nos organizar para entrar no hospital (Hospital Bezerra de Menezes).

Quem participava desse movimento?

Ângelo Milane, Humberto Diana, Cidinha Milaré, Leonilde Diniz, Josué Henrique e eu...Um bando de loucos (risos). Ninguém tinha nenhuma formação ligada à área da saúde, mas resolvemos entrar para levantar o hospital que estava de “tanga”. Não tinha roupa, chovia dentro, estava uma calamidade. As pessoas gostavam do hospital, então não era difícil conseguir ajuda. Dinheiro não, dinheiro é difícil de conseguir em qualquer lugar. Mas nós conseguimos levantar o hospital

A senhora fazia o quê?

Era tesoureira, mas sentava na máquina para costurar lençol, transportava sacos de batata e de cebola que a gente ganhava no começo para o hospital, enfim, todo mundo fazia de tudo. O hospital era como um filho. As crianças que nasciam lá eram todos meus netos. Brincava, conversava com as mães sobre amamentação. Com a administração do Milani, conseguimos levantar o hospital. Depois de três anos, entrou o Chico (Francisco Grillo) que deixou a parte administrativa nos trilhos. Posteriormente, quando o Chico ‘nos abandonou’ entrou o Airton Finotti, que está até hoje.

Quando vocês ficaram sabendo que a Prefeitura iria fechar o hospital, qual foi a reação?

A gente não soube que ia fechar. Quando aconteceu foi uma dor muito grande, muito grande, que ainda hoje dói (Susie chora com a lembrança). Magoou muito. Hoje estamos com a Clínica Bezerra de Menezes, que atende particular e convênios. Estamos conseguindo médicos de primeira categoria que vêm da região. São médicos que têm uma boa clientela fora daqui e que vêm para ganhar pouco. Uma pessoa que é capaz de fazer isso vem trabalhar com o coração não com o bolso.

E isso é o mais importante...?

Com certeza. O hospital sempre trabalhou muito com o coração. Começou com o seu Adelino Grillo, o doutor Antoninho, que foi o primeiro médico de lá. Depois o doutor Walter Castelucci, que faz uma falta enorme pra gente. O doutor Célio Prado ficou muitos anos lá. Ele era um esteio do hospital. A história do hospital era uma história de amor. Eu não sei, mas aquele hospital tem alguma coisa que a gente não explica. Acho que é excesso de amor.

A senhora falou do nome sagrado do hospital, qual é a sua religião?

Atualmente, sou espírita, mas meu pai e minha mãe eram protestantes. Fui criada em Igreja Metodista, porque o colégio que estudei era metodista. Depois que meu pai faleceu (dezembro de 81), eu tinha uma amiga no Ministério da Educação que era espírita e conversava comigo a respeito da morte do meu pai. Aquilo me fez bem, porque me ajudou a encontrar respostas que eu não encontrava. A partir daí, comecei a freqüentar o Centro André Luiz, em Porto Feliz. Fui entender que ter uma religião não é dizer eu sou isso, eu sou aquilo, freqüento aqui ou lá, e sim praticar. 

A senhora nunca casou?

Não. Fui noiva e ia casar. Mas eu ajo mais com a razão do que o coração. Na hora de pesar os prós e contras, achei que os contras pesavam mais. Nós nos conhecemos nos EUA, ele é professor de uma universidade em Porto Rico. Era um noivado a distância. Mas não ia dar certo. É a maneira de pensar, família, cultura. Acho que sou muito exigente, e não encontrei nada que me movesse a formar uma família. Ter uma família é muito importante, principalmente quando se vai ficando mais velha. Ter filhos, netos, mas eu tenho os meus sobrinhos que são como filhos, cinco sobrinhos netos, nenhuma menininha. Eles são fantásticos.

Atualmente a senhora vive aqui na fazenda com quem?

Até minha mãe falecer no ano passado, era a Elsie e eu. A Addy morava em São Paulo, mas vinha muito para cá no último ano que minha mãe estava mal. Agora, a Addy vendeu sua casa em São Paulo e está construindo aqui na cidade. Por enquanto, ela e meu cunhado também estão morando aqui na fazenda.

A senhora tem idéia de se desfazer da fazenda?

Não sei, acho que é uma coisa que precisa ser pensada, decidida. As pessoas têm ciclos na vida, então fecha um ciclo e se inicia outro. Não sei se me desfazer da fazenda é fechar um ciclo.

Rehder é o sobrenome do seu pai?

É, ele era neto de alemães. Minha mãe Mary era Jones. Conta a lenda que os Jones vieram do país de Gales e lá tinham o sobrenome de Stwart, e por causa da perseguição religiosa mudaram para Jones e foram para os Estados Unidos. A família da minha mãe é daqueles americanos fundadores de Americana, que vieram depois da Guerra de Secessão. Eles eram sulistas de Geórgia (Alabama), perderam a guerra e ficou uma situação difícil lá. Então, D. Pedro, que era maçon, convidou o meu tataravô, coronel que também era maçon lá, para vir para o Brasil. 

O que é felicidade para a senhora?

Não é muito não. São as coisas que você faz e o retorno que você tem. Esses dias eu estava pensando, aqui em Porto Feliz, o que mais me deu retorno foi o albergue noturno André Luiz e não o hospital, por mais que o hospital tenha significado para mim.

Quantos anos a senhora ficou no albergue?

De plantão fiquei uns 12, 13 anos. Muitos anos, dezenas, centenas de histórias de pessoas. Histórias tristes, engraçadas. Tinha o seu Orácio com Ó, que eu nunca me esqueço.

O que a senhora acha do trabalho de voluntário?

Acho que para ser voluntário você precisa estar à disposição e trabalhar sem interferir, sem entrar onde você não deve. Por exemplo, no hospital, nós não podíamos atrapalhar o andamento do hospital. Mas tínhamos um papel fundamental de ver, observar, sentir o andamento, porque não adianta você perguntar para um paciente porque ele tem medo de falar. Acho o voluntariado necessário, importante, mas se não for muito bem orientando ou é perigoso ou perde o valor. Lá no projeto nós temos uma orientadora que é a Maria José Vital.

Que projeto é esse?

É o Projeto “Ser Crescer”, que funciona no Jardim Vante para crianças e jovens de 7 a 14 anos. Procuramos incutir neles a idéia de que são importantes para que se tornem alguma coisa. São 40 crianças de manhã e 40 à tarde, que ao em de ficarem na rua vão para o projeto ter reforço escolar, orientação para higiene e receber refeições. A prefeitura fornece a alimentação e nós corremos atrás de recursos para pagar as contas.

A senhora passou por uma cirurgia recentemente?

Fiz uma cirurgia para extrair um nódulo de câncer na mama direita, que acabei descobrindo com exame de auto-toque. Não tenho problema nenhum em falar, porque achei melhor em vez de chorar, enfrentar a situação. Operei e hoje não tenho mais nada. O que mais me marcou foram as restrições que a fisioterapeuta fez, os “nunca mais” da vida. Não carregar peso, não machucar o braço, não tirar mais cutícula. Eu sempre fui muito independente e essas restrições foram as únicas coisas mais desagradáveis do episódio. No fim você tem muito mais para agradecer do que para pedir. Deus ouve e responde sempre as nossas preces. Nós é que temos que aprender a compreender suas respostas.

Hoje, aos 67 anos, o que a senhora pretende continuar fazendo?

Pretendo continuar fazendo e vendendo meus bordados para ajudar em projetos beneficentes. Se você administra bem o pouco dinheiro que tem, consegue fazer horrores.
Fonte:  Revista Viu!

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