Monções

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História

Monções (expedições fluviais)
(Extraído de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mon%C3%A7%C3%B5es_(expedi%C3%A7%C3%B5es_fluviais) )

As chamadas monções foram expedições fluviais que, entre a segunda década do século XVIII e a primeira metade do século XIX, mantiveram as comunicações entre a capitania de São Paulo e a capitania de Mato Grosso, no Brasil.

História
Em sua origem, o termo se refere ao regime proposto em 1059, que define o período propício à navegação. No Brasil daquela época, porém, tratava-se do ano favorável às viagens fluviais, considerando-se o regime dos rios - cheias ou vazantes. O termo "monções" aplicado às expedições fluviais no Brasil foi adotado porque o período favorável às jornadas paulistas coincidia com as viagens de Portugal para o Oriente, nos meses de março e abril, época em que um regime de ventos provocava fortes chuvas no Oceano Índico, rota dos portugueses.

As monções tiveram um importante papel na colonização da Região Centro-Oeste do Brasil, após o declínio das bandeiras. Iniciaram-se em 1718, quando o bandeirante Pascoal Moreira Cabral descobriu ouro nas proximidades do sítio onde hoje se encontra a cidade de Cuiabá. Em pouco tempo, outros sertanistas foram atraídos pela notícia, sobretudo da capitania de São Paulo. Como resultado, uma verdadeira corrida do ouro acabou por converter a região em um vasto campo de mineração. Posteriormente, essas expedições tornaram-se regulares e o seu objetivo passou a ser também comercial e militar, visando ao abastecimento e defesa dos mineradores de Cuiabá, Vila Bela e demais povoações surgidas em decorrência da mineração.

De todo modo, a viagem entre as capitanias de São Paulo e Mato Grosso era penosa e requeria, no mínimo, cinco meses. A partir de Araritaguaba (atual Porto Feliz), no rio Tietê, chegava-se ao rio Paraná, depois ao rio Pardo, aos afluentes do rio Paraguai, ao rio São Lourenço e, finalmente, ao rio Cuiabá. Nos trechos encachoeirados, todos desembarcavam, arrastando as numerosas canoas ou puxando-as com cordas. Assim, foi introduzido o gado bovino em Mato Grosso. Da mesma forma, abriram-se as comunicações regulares entre Mato Grosso e o Estado do Grão-Pará e Maranhão.

Cronologia
1720 - Partida de monção com quatro comboios, dos quais apenas dois chegam às minas de Cuiabá, um deles com gentes e carga de Antônio de Almeida Lara.

1726 - Viagem de ida do governador e capitão-general da capitania de São Paulo, dom Rodrigo César de Meneses (1721-1727), acompanhado por 3 000 pessoas.

1730 - Retorno da monção de 1726. Registra-se ataque dos paiaguás na altura do Xaréu, tendo perecido o ouvidor-geral, Antônio Alves Lanhas Peixoto.

1751 - Partida da monção do governador e capitão-general da capitania de Mato Grosso, dom Antônio Rolim de Moura Tavares.

1785 - Partida da monção que transportou o juiz de fora de Cuiabá, Diogo de Toledo Lara Ordoñez e o padre José Manuel de Siqueira.

1788 - Partida da monção do astrónomo e matemático Francisco José de Lacerda, que efetuou observações científicas.

1800 - Partida da expedição militar de Cândido Xavier de Almeida Sousa[4], que transportou tropas, armamentos e munições para a fronteira sul-matogrossensse.
1826 - expedição do naturalista russo barão de Langsdorff.

1858 - última expedição militar, sob o comando do capitão Luís Soares Viegas, transporta armas, munições e petrechos militares para a Província de Mato Grosso.




Monções
(Extraído de: http://www.portofeliz.sp.gov.br/content.php?t=content&id=15&idm=15)

De origem árabe, a palavra monção significa “estação do ano em que se dá determinado fato”. No Brasil, o termo deu nome às grandes expedições fluviais que se realizavam no século XVIII com destino às terras do Oeste, após a descoberta das minas em Cuiabá (MT). Eram organizadas entre os meses de abril e setembro, época considerada mais propícia.
Existiam dois tipos de Monções: As Reiunas (ou Oficiais) e as Particulares.

Reiunas, ou Oficiais
Eram organizadas pelo Governador, com o fim de transportar forças militares e autoridades administrativas. A mais célebre foi a do governador Rodrigo Cézar de Menezes. Partiu do porto de Araritaguaba para Cuiabá (MT) em 1726, com 308 canoas e cerca de 3 mil pessoas.

Expedições particulares
De iniciativa privada, objetivavam o comércio com as zonas de mineração. A última Monção particular de que se teve notícia em Porto Feliz foi a de Fermino Ferreira. Seu fim se deu frente à dificuldade das cachoeiras e corredeiras. Com o tempo, passaram-se a utilizar novos caminhos, à medida que o ouro de Cuiabá e Goiás ia-se tornando raro.

Partida e volta de uma monção

A Partida

O dia de partida de uma Monção era sinônimo de grande movimentação e festa em Araritaguaba. Desde o clarear do dia, canoas e batelões recebiam os carregamentos a serem utilizados durante a viagem e vendidos nas minas. Constituíam-se de alimentos não-perecíveis, como: farinha de milho e mandioca, feijão, toucinho, sal e carne salgada; barris de aguardente produzida na terra; armamentos e munições.Tarefas cumpridas, piloto, proeiros, remadores, soldados, escravos e outros passageiros aguardavam em seus postos a chegada dos bandeirantes chefes e o momento de partir. O desejo de enriquecimento rápido e o espírito de aventura pareciam lhes furtar, por alguns instantes, a distância a ser vencida, os rios a transpor, a ferocidade dos índios e tantos outros sofrimentos à sua espera. Antes da partida, todos recitavam uma ladainha, sucedida pela benção final do sacerdote. Momento de partir: todo o povo concentrado no porto. Tiros eram dados, rufavam os tambores. Uma a uma, as canoas iam descendo o grande rio, tremulando bandeiras coloridas. À sua frente, 3500 Km de águas para superar, dos rios Tietê, Paraná, Pardo, Coxim, Taquari, Porrudos e Cuiabá, até atingirem a região das minas de ouro. O trecho mais difícil era a subida do Rio Pardo, onde se gastavam até dois meses. Nas cachoeiras, as canoas desciam seguras, amarradas por cordas, e as cargas, sobre os ombros dos tripulantes.

A Volta

Passavam-se meses... De repente, um tiro de arcabuz rompia o silêncio de um vilarejo aparentemente deserto. As casas de Araritaguaba davam sinal de vida. Todas as atenções voltavam-se para o grande rio. Era uma Monção que vinha chegando de Cuiabá. O povo se dirigia rapidamente ao Porto, com grande inquietação e expectativa pelo retorno ou, ao menos, notícias de entes queridos.No dia seguinte, o povoado amanhecia movimentado. Com a descarga das canoas no Porto, Araritaguaba, pobre e quieta, tornava-se por alguns dias rica e agitada. O ouro corria como dinheiro e, com grande facilidade, eram gastas as riquezas adquiridas com tanto sofrimento.

O Batelão

Batelão era a embarcação utilizada nas expedições (fundamentalmente, a piroga indígena), fabricada de um tronco só de Peroba ou Ximbúva, madeiras muito resistentes.Esse canoões tinham 1,65 m de largura, 12 m de comprimento, 1,15 m de profundidade e sua espessura, 0,67 m. Acomodavam cerca de 90 sacos de mantimentos.Os aperfeiçoamentos introduzidos se limitavam à utilização de juntas de ferro e cobertura de lona para proteção contra chuvas.A tripulação era composta pelo piloto, contra-piloto, proeiro e 5 ou 6 remeiros. Esses canoões tinham extremidades na proa, para os remeiros, e outra na popa, para o piloto.Numa Monção, a canoa maior servia de guarda e guia, levando na popa uma bandeira com as armas portuguesas.





Cinco Meses De Aventuras: As Monções
(Extraído do livro "História De Usos E Costumes Do Brasil", disponível no Google Livros)





Monções E O Tietê
(Extraído do livro "Ai De Ti, Tietê", disponível no Google Livros)
Extraído do Google Livros



Monção
"Dicionário do Brasil Colonial"  - Ronaldo Vainfas
(Extraído de: http://ropresso.blogspot.com.br/2016/04/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_74.html)


A palavra monção, ao que parece, é de origem árabe e tornou-se parte do vocabulário português durante as viagens pelo Oriente. Eram ventos alternados que propiciavam a navegação às Índias. Na história colonial, monções também significavam época de navegação, mas esse deslocamento prescindia de ventos. O termo designava a navegação fluvial para o oeste, realizada pelos paulistas durante o século XVIII. Essa jornada empregava remos: necessitava de força física e não eólica. No entanto, Sérgio Buarque de Holanda destacou a existência de traços semelhantes entre as viagens oceânicas portuguesas a as fluviais dos paulistas: regularidade, periodicidade e duração. Todos os anos, nos meses de março a abril, as viagens para o Oriente coincidiam com as jornadas paulistas para Cuiabá, aproveitando as cheias dos rios e a facilidade de navegação. O trajeto entre Porto Feliz a Cuiabá consumia cerca de cinco meses, mesmo tempo da rota entre Portugal a India. As monções ocupam importante capítulo da história colonial, marcando a ampliação das fronteiras e a colonização do interior, constituindo um prolongamento das bandeiras paulistas. As primeiras monções para Cuiabá empregavam o mesmo contingente humano das bandeiras do século XVII, mas se iniciaram quando o bandeirantismo entrava em declínio. Sérgio Buarque destacou que as longas jornadas fluviais modificaram algumas características das bandeiras, diversificando os meios de locomoção a exigindo nova postura dos componentes. Se para os bandeirantes os rios eram obstáculos à marcha, nas monções eram a principal artéria de deslocamento, razão pela qual as técnicas fluviais alcançaram grande desenvolvimento entre os paulistas. Para tornar a jornada menos perigosa, formaram-se comboios que substituíram as unidades isoladas. Nos primeiros anos, muitos morreram nas monções por ataques indígenas, naufrágios a fome. Para que os navegantes, suprimentos a mercadorias fossem protegidos contra as intempéries do clima, as embarcações ganharam toldos de lona, brim ou baeta, sustentados por armação de madeira, a tornou-se recorrente o use de mosquiteiros. As técnicas de navegação se basearam nas tradições indígenas, mas eram empregadas toras maciças na construção de canoas, em vez de cascas de árvores, para torná-las mais resistentes a duradouras. Possuíam cerca de 13 metros de comprimento, contando com seis remeiros, piloto a proeiro, sendo as cargas dispostas no centro da embarcação. Com a descoberta de veios auríferos, intensificou-se o comércio na região. As frotas, então, reuniam por vezes 3 00 ou 400 canoas, que transportavam desde sal até artigos de luxos, como sedas, de modo que as monções se tornaram essenciais para o abastecimento das minas nos primeiros tempos, rivalizando em importância com o abastecimento terrestre à base de tropas de mulas a contribuindo para a formação de circuitos internos na economia colonial.





Pré-história das monções I
Sérgio Buarque de Holanda,
22 Abril 2011 | 20h58
(Extraído de: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pre-historia-das-moncoes-i,709679)

À leveza e ao fácil meneio das igaras de casca não corresponderia necessariamente, como se pode pensar, uma fragilidade excessiva. Contra essa suspeita milita o fato de serem essas canoas preferidas às de lenho inteiriço justamente nos lugares mais acidentados de certos rios, isto é, mais cheios de embaraços, tropeços e perigos para a navegação. Já se notou como nas partes encachoeiradas do Rio Madeira, por exemplo, é que elas prevalecem quase exclusivamente, só encontrando a competição das outras, feitas de troncos escavados a fogo, machado e enxó, onde a mareação pode fazer-se independentemente de maiores estorvos.        

Embora o “civilizado” tenha conseguido modificar de algum modo semelhante situação, o fato é que ela ainda persiste, no essencial, até os nossos dias. A construção pouco dispendiosa das canoas de casca admitia que fossem elas abandonadas sem maiores prejuízos onde se mostrassem inúteis. Dos antigos paulistas sabe-se que tinha o hábito de largar suas igaras nos maus passos, fabricando-as de novo quando delas necessitassem. Hábito, esse, herdado, por sua vez, dos primitivos moradores da terra, assim como o de as afundarem ou simplesmente quebrarem.
Em seu Ensaio sobre as construções navais indígenas, observa Antonio Alves Câmara como, entre muitas tribos indígenas, era uso mergulhar as canoas nos lugares de remanso e, em seguida, amarrarem-nas ao fundo, de onde podiam ser retiradas a qualquer momento.¹ O costume de ocultá-las, e mesmo destruí-las, sempre que preciso parece ter sido muito generalizado. Curt Nimuendajú, ² que ainda pode assinalar entre os parintintim da Amazônia, relaciona-o à necessidade em que se viam esses índios de evitar que delas se aproveitasse o inimigo. Às mesmas providências não deixavam de recorrer os nossos mamelucos. Assim, em depoimento prestado em janeiro de 1685 às autoridades castelhanas de Assunção do Paraguai, certo índio fugido aos maloqueiros de São Paulo referia como, devendo regressar estes à sua terra como o gentio preado, inutilizavam de antemão todas as canoas que os tinham transportado.
Em outros casos, onde devesse ser breve a varação, ou em sítios em que escasseavam os troncos apropriados, transportavam-na por terra, valendo-se de cordas ou correias de couro. Isso ocorria mais frequentemente, no entanto, com as canoas de madeira. As outras, as de casca, admitiam recursos mais simples, como o de carregá-las às costas dos índios ou emborcadas sobre as suas cabeças, tal como sucede entre certas populações particularmente de nosso extremo norte, observadas por Theodor Koch-Grünberg.³
Tais cuidados são explicáveis quando se considera que muitas dessas igaras, apesar do pobre material de que são feitas, estão longe de constituir simples recurso de emergência para índios e sertanistas. Mesmo entre gente mais sedentária podiam elas enfrentar, de algum modo, a competição das canoas de madeira. Assim, num inventário paulista, no ano de 1599, o de Isabel Fernandes, mulher de Henrique da Cunha, que fora juiz ordinário da vila, figura expressamente uma canoa “de casca” entre a fazenda que se mandou avaliar e vender na praça4. Não apenas a vantagem do custo relativamente baixo, mas ainda a da durabilidade, tão notável quanto sua resistência aos obstáculos que embaraçam e atropelam a mareação, justificam o largo uso que se chegou a fazer dessas canoas.
Aludindo a essa última vantagem, afirmou Georg Friederici 5 que elas chegaram a alcançar, em condições normais, até seis anos de vida, enquanto as de pau inteiriço seriam incapazes de durar mais de um verão. É certo que suas observações nesse caso procuram abarcar todo o continente americano tomando em bloco e grosso modo e não se detêm nas condições especificamente brasileiras. Além disso, a madeira das canoas monóxilas a que se refere é declaradamente a do álamo, não a de qualquer das espécies botânicas usuais entre nós para a fatura de semelhantes embarcações.
Todavia, quando recorre a uma só variedade de madeira, não parece ter ela em mira restringir o alcance de sua teoria da durabilidade menor das canoas de madeira inteiriça, e sim ilustrar essa mesma teoria, socorrendo-se, para tanto, de um exemplo mais eloquente do que característico. Cabe, em todo caso, perguntar se esse empenho de fazer mais expressiva uma convicção pessoal não tenderia aqui, como sucede constantemente em circunstâncias tais, a desfigurar os fatos. Ao menos no que diz respeito às grandes canoas monóxilas de treze e mais metros de comprido, que se usaram na era das monções, construídas literalmente segundo as velhas técnicas indígenas, há certeza de que serviam ordinariamente, não apenas um, mas vários verões e invernos, nas expedições regulares entre Araritaguaba e Cuiabá. E quando principiarem a escassear nas beiradas do Tietê e tributários os troncos corpulentos, próprios para o seu fabrico, as canoas já usadas e muitas vezes remendadas irão formar o grosso das frotas de comércio. Assim é que das treze que foram na Real Monção de 1818, quatro apenas tinham sido especialmente fabricadas para essa viagem, segundo consta de documentos que se conservam manuscritos no Arquivo do Estado de São Paulo.
Seja como for, parece improvável que pudessem elas superar por mais de dez ou quinze anos, se tanto, os maus-tratos a que as expunha uma longa e penosa navegação. Consta, em outro documento manuscrito, que em 1798, de vinte canoas de comércio aprontadas um decênio antes, quando da chegada à capitania do governador Bernardo José de Lorena, e desde aquele tempo deixadas em ranchos protetores junto ao embarcadouro de Porto Feliz, pouquíssimas podiam considerar-se aptas para o serviço. O quase abandono em que se achavam, sem abrigo seguro, sem cuidados maiores que nelas atalhassem a obra do tempo e, sobretudo, sem uma eficaz vigilância contra a maldade dos desocupados, numerosos na região e certamente mais daninhos do que todos os contratempos que as poderiam esperar em viagem, bastavam para as condenar, verdadeiras canoas de ninguém, a uma ruína rápida e sem remédio.
Mesmo assim andariam elas bem longe daquela efêmera duração atribuída por Friederici às embarcações de madeira inteiriça. E é fácil supor que maiores seriam suas perspectivas de conservação se a escolha das árvores próprias para seu fabrico não tivesse a limitá-las às possibilidades da flora paulistana e, ainda mais, à consideração da capacidade exigida para o transporte de carga numerosa. Vinte anos de vida teriam, segundo Alexandre Rodrigues Ferreira, as de camaru ou angelim preto do Pará, que por outro lado não alcançavam as dimensões médias das canoas das monções, feitas de ximbouva ou peroba.
Ora, se peca ou exagera a pretensão de que as embarcações de pau inteiriço alcançam pequeníssima duração, não se poderia imaginar o dar às igaras? Ou antes, não se fundaria essa crença num simples limite de exceção, atingindo em condições quase ideais? Das canoas de casca de jatobá, as mais geralmente usadas no Brasil, sabe-se, de acordo com estudos modernos, que têm uma duração máxima de dois anos, em condições normais. Sujeitas a viagem acidentadas e trabalhosas, entretanto, conservam-se por muito tempo.
A verdade é que sua capacidade de resistência aos obstáculos naturais, que caracteriza esse tipo de embarcação, está longe de se relacionar de modo exclusivo à durabilidade, que também pode ser comprometida pelo fato, entre outros, de a cortiça de que é fabricada absorver, em geral, comparada à madeira, uma quantidade bem maior de água, o que prejudica evidentemente sua conservação. Além disso, a própria circunstância de serem usadas frequentemente em lugares acidentados tende, na prática, a sujeitar as igaras a um rápido desgaste.
rodapé
*Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo, 4 jan. 1957. (N. O.)
¹ Câmara, Ensaio sobre as construções navais indígenas, p. 226 et seq.
² Nimuendajú, The Eastern Timbira.
³ Koch-Grünberg, Vom Roraima zum Orinoco, III, p. 77.
4 Inventários e testamentos, I, p. 260.
5 Friederici, Die Schiffahrt der Indianer.





Livros

Monções
É um livro de Sérgio Buarque de Holanda, publicado em 1945.
Coletânea de textos sobre as expedições bandeirantes feitas pelos rios do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil, nos séculos XVIII e XIX. Esses rios tinham a vantagem de desaguar no interior do país, como o Rio da Prata e o Rio Paraguai, permitindo a navegação seguindo seu curso. Essas expedições tinham o objetivo de encontrar metais preciosos e outras riquezas. Como consequência das Monções, Reduções e Bandeiras, dá-se a grande dimensão territorial brasileira.





MONÇÕES E CAPÍTULOS DE EXPANSÃO PAULISTA - (Caixa com dois volumes)

Monções, volume publicado originalmente em 1945, trata das expedições portuguesas ao interior da Colônia por rios do Sudeste e do Centro-Oeste. Aqui, com grande talento narrativo e habilidade ímpar de compreensão histórica, o autor reconstitui o processo de adaptação dos portugueses ao território americano de forma original, a partir de descrições palpáveis da áspera empreitada colonial. 
Em sua quarta edição, o livro é publicado ao lado de coletânea de organização inédita, Capítulos de expansão paulista - cujo título (inspirado em Capistrano de Abreu) dá continuidade à série dos escritos inacabados do historiador paulista, tais como Capítulos de literatura colonial e Capítulos de história do Império. Esta reúne “fragmentos” do projeto idealizado por Buarque de Holanda de reescrever e ampliar Monções com novas informações que recolhera ao longo de pesquisas feitas em Cuiabá e Lisboa, e portanto lhe serve de complemento perfeito. 
A hipótese da tentativa de “reescritura” de Monções, fato novo e instigante nos estudos sobre Sérgio Buarque, é ancorada em pesquisas desenvolvidas pelos organizadores, nas quais tiveram acesso a documentos inéditos.


Veja mais sobre o livro:

Sérgio Buarque De Holanda

Nasceu em São Paulo, em 1902. Foi historiador, crítico literário e jornalista. Um dos maiores intelectuais do século XX, lecionou em várias escolas superiores e tornou-se, em 1956, catedrático da Faculdade de Filosofia da USP. Morreu em 1982.

Outros livros do autor:
  • Do Império à República
  • Raízes do Brasil
  • Visão do Paraíso

Diário Da Navegação
Teotônio José Juzarte
Jonas Soares De Souza (org.)
Coleção Tempo & Memória, nº 10
Editora Da Unicamp / Centro De Memória-Unicamp
1999 - Campinas









Trabalhos Acadêmicos

Os Fantasmas Do Rio : Um Estudo Sobre A Memória Das Monções Do Vale Do Médio Tietê

Resumo:
As monções foram expedições fluviais próprias do século XVIII, partindo do porto paulista de Araritaguaba, atual Porto Feliz, no Vale do Médio Tietê, e demandando as minas de ouro de Cuiabá, no Mato Grosso. Percorriam cerca de 3.500 quilômetros por diversos rios, superando obstáculos inúmeros, entre corredeiras, saltos, pestilências, ataques indígenas, para o fornecimento de víveres, manufaturados, transporte de homens e de ouro. Pelo conjunto de peculiaridades, técnicas específicas de marinharia e fabricação de canoas, bem como pela coleção de ocorrências trágicas, as monções se revestiram, ao longo dos tempos, de uma aura de empreitada grandiosa, quase absurda, semi-lendária. Seu desaparecimento deveu-se à abertura de caminhos terrestres por Goiás e ao advento das tropas de mulas. As últimas expedições comerciais de que se têm notícia partiram de Porto Feliz na década de 1.830. A partir daí o fenômeno e as técnicas, práticas e histórias que lhe são pertinentes parecem ter rapidamente adentrado um processo de esquecimento. Novo capítulo se acrescentou a partir do início do século XX, com a monumentalização das monções, graças à iniciativa do governo paulista e de historiadores, dentre os quais se destaca Afonso de Taunay. São dessa época o monumento às monções e a escadaria monumental erigidos à beira do Tietê, em Porto Feliz. Já nas décadas de 1940 e 1950, também com a participação de outro historiador, Sérgio Buarque de Holanda, as monções propiciariam a criação de uma festa anual, ainda existente, na qual moradores de Porto Feliz procuraram "reviver" a seu modo aquelas expedições, com trajes e adereços inspirados no século XVIII, desfiles e outras celebrações. O exame de documentos cartoriais do início do século XIX, no qual a tripulação das últimas monções aparece como depoentes em autos de devassa, dá conta de sua condição social, confirmando os vários depoimentos de autoridades coloniais e viajantes. Uma listagem e exame dos cerca de meia centena de homens encontrados na pesquisa comprova seu baixo extrato social, negros e mestiços em grande parte. Esse perfil é cruzado com algumas ocorrências criminais naquele meio, bem como com o levantamento dos valores que se pagava habitualmente por seus serviços, como remadores ou pilotos de canoas. As queixas de comerciantes e outros viajantes quanto à instabilidade ou inconstância de tal maruja também é trazida para buscar uma visão do grau de apreço de que o ofício de monçoeiro gozava. Era ofício desprestigiado, relegado às camadas mais pobres da população e cercado pelo estigma da pouca confiabilidade de seus membros. Por outro lado, o arrolamento de depoimentos de viajantes e antigos cronistas mostra que a idéia de bandeirante, de paulista, de bandeira ou monção, desde muito cedo esteve cercada pela aura de heroísmo e de façanha notável. Mostra-se que o conceito de um "paulista heróico" não foi construção acadêmica do início do século XX, como pensam alguns, mas apreciação bem mais antiga. Assim, bipartiram-se as imagens que se teve, nos séculos XVIII, XIX e mesmo no XX, acerca do fenômeno das monções. Elas foram percebidas como feitos grandiosos pelos viajantes, pelas autoridades em trânsito, pelos estrangeiros. Mas essa grandeza não foi efetivamente comunicada à marinharia rude que a serviu, tida sempre como gente de pouco valor e pouca confiabilidade. Confirma-se a impressão de Sérgio Buarque de Holanda, de que os ofícios do rio não foram realmente absorvidos pela "gente rude" de São Paulo. Assim que a necessidade de navegar se esvaiu, aquele ofício foi rapidamente esquecido, sem ter gerado costumes, tradições ou festejos significativos e duradouros. Há uma memória oficial e monumentalizada, das monções, mas não há uma memória dos monçoeiros, cuja realidade grosseira e desprestigiada, de certa forma, perdeu-se rapidamente da lembrança nacional e mesmo da regional.


Monções E Bandeiras - Um Breve Comparativo Social, Econômico E Geográfico Sobre A Exploração Territorial Na América Portuguesa

Iconografia monçoeira: imagens e ideologia


Resumo
A dissertação tem como proposta principal, analisar como a iconografia monçoeira foi
apropriada por uma elite política e letrada paulista, um projeto idealizador encetado com
o objetivo de efetivar São Paulo como o maior responsável pela formação da nação
brasileira, criando para isso o ideário bandeirante no final do século XIX e início do
XX. As Monções inserem-se nesse projeto, pois surgem como um dos suportes
ideológicos para sua implementação, principalmente, por ser um caminho fluvial que
derivou-se de um caminho utilizado pelos bandeirantes no século XVIII, até se tornar
uma rota comercial que ligava Porto Feliz às minas de ouro de Cuiabá em uma longa e
difícil viagem. O maior implementador de toda essa construção iconográfica foi o então
diretor do Museu Paulista Afonso de Taunay, que utilizou-se de um grande aparato
visual como instrumento pedagógico perante a população, sua escrita e sua retórica
contundente serviram de apoio nesse processo, foi durante sua gestão que diversos
quadros foram encomendados e formada uma sala dedicada às Monções. A imagem,
desta maneira, se apresenta como fonte de abrangência multidisciplinar que dialoga,
sobretudo, com uma narrativa textual produzida. Deste modo, pretende-se interpretar e
analisar a utilização das imagens das Monções, por uma elite paulista, com o apoio do
mecenato público para a construção de um discurso ufanista e ideológico.
A pesquisa ressalta a importância de um momento histórico e sua relação com a história
paulista e a nacional, identificando o papel de destaque desse movimento expansionista
e sua ligação com um processo elitista, que objetivava colocar São Paulo em lugar de
destaque perante o restante do país.





Brasil Colônia: Expansão Territorial - Entradas, Bandeiras e Monções - Vídeo Aula 2
HistoriAção Humanas - Canal de História


Entradas e Bandeiras - Histórias do Brasil (4/10)
tvbrasil



Expedição - Rota das Monções (Monsoon's Path)
rotadasmoncoes









Representações Artísticas


Pinturas

Partida de uma expedição de Porto Feliz para Cuiabá
Nanquim a pena de Hercule Florence (1830)
Extraído de: http://www.edhorizonte.com.br/tiete/2012/05/painel-12/



Benção Das Canoas Em Porto Feliz
De Aurélio Zimmermann




(Extraído do Google Books)


(Extraído do Google Books)

Encontro de Monções no Sertão
Oscar Pereira da Silva, 1920


Partida da Monção - Estudo e Obra Final
Almeida Júnior, 1897

Obra Final


Estudo





A PARTIDA DA MONÇÃO (POEMA)
VICENTE DE CARVALHO

I

Ei-las, as toscas naus de borda rastejante
À flor das águas, naus de estreitos rios quietos;
Ei-las, prestes a abrir para o sertão distante
O seu vôo, arrastado e sem glória, de insetos.

Nem o porte arrogante, o sobranceiro aprumo
- Altivo no descanso e ousado nos tufões –
Dessas águias que vão bordejando sem rumo
Pelo acaso do mar, feito de turbilhões;

Nem a airosa altivez de velas desfraldadas
Fulgindo ao sol, ao vento abroquelando o bojo;
Nem proas a romper ondas e espumaradas,
Pelos parceis em fúria arroteando o rebojo;

Nada disso que faz o petulante orgulho
De afoitos bergantins e galeras reais:
Calcar a onda, rompê-la, ouvindo no marulho
A comemoração de seus passos triunfais;

Nem adiante, acirrando o desejo atrevido
De aventura e perigo, ânsias de glória, em suma,
- A infinita extensão do mar ermo, perdido
Nos confins do horizonte amortalhado em bruma;

Nem o arroubo, a poesia, a esperança fogosa
De ir ao longe, através das ondas, conquistar
A nudez pagã e a virgindade ociosa
De ermas ilhas em flor nas solidões do mar...

II

Humildes, toscas naus de borda rastejante
À tona d´água, naus de estreitos rios quietos;
Vão apenas abrir para o sertão distante
O seu vôo, arrastado e sem glória, de insetos.

Levadas no pendor macio da corrente,
Irão seguindo, irão seguindo sem rumor
E sem vontade, mole e resignadamente,
Por um rumo servil, forçado e encantador.

A raiva dos tufões (como a grita afastada
De eco em eco se adoça em suspiro de mágoas)
Esvaída, a morrer de quebrada em quebrada,
Mal roçará de leve a face azul das águas.

Em todo o curso, a terra ao lado, seio amigo,
Companheira constante e proteção fiel,
Pondo o socorro à mão nas ânsias do perigo,
Dando ao gozo do olhar delícias de um vergel.

E o rio, manso, manso... a ondular, murmurando
O seu murmúrio igual, monótono estribilho,
Morosa cantilena, em voz baixa e em tom brando,
De mãe que embala o berço onde repousa o filho.

E o rio, manso... manso... a embalá-las, descendo,
No balanço sutil da mole ondulação,
E a arrastá-las, de leve, assim, para o tremendo,
Para o longínquo, vago, infinito sertão...

III

Hão de em breve surgir, pelas margens sinuosas
Florestas virgens de onde um confuso rumor
Sobe de solidões profundas, misteriosas,
Como um uivo agourento, um uivo ameaçador.

Voz sem eco, a não ser na alma de quem a escuta,
Surdo resfolegar de monstro provocado
Que de repente acorda e, prestes para a luta,
Abre a guela de sombra, e espera, sossegado.

Sossegado, seguro, apercebido, espera
Os que lhe vem trazer, fanática oblação,
Corações para a flecha e sangue para a fera,
Carniça para o abutre e ossadas para o chão.

A oculta sucuri das ervas no disfarce,
Ergue a cabeça, afirma o olhar esconso e fusco,
E vagarosamente, e como a espreguiçar-se,
Desenrodilha o corpo e apresta o salto brusco.

Na sombra eternamente apagada, noturna,
De fundos socavões virgens da luz solar,
Em cada gruta, em cada escuro, em cada furna,
Relampejam fuzis nos olhos de um jaguar...

IV

Depois da mata escura o campo undoso e verde,
Banhado em sol, fechado em céu ao longe, e assim
Tão vasto e nu, que o olhar se fatiga e se perde
Num esplendor sem sombra e num ermo sem fim.

Paira, grassa em redor, toda a melancolia
De uma paisagem morta, igual, deserta e imensa,
Pondo nos olhos e nas almas que enfastia
Um peso ainda maior que a dor, a indiferença.

Desanimado, absorto, ante essa indefinida
Solidão que se espraia além, além... o olhar
Tem a impressão que faz a tristeza da vida:
De ir seguindo, seguindo... e nunca mais voltar.

Sobre os dias irão caindo as noites... Vastas
Noites de um céu que é todo azul de lado a lado,
Quando, ó triste luar das planícies, afastas
Ainda mais, ainda mais, o horizonte afastado...

V

De repente, uma flecha alígera sibila.
De onde veio? Da sombra. E a sombra, de repente,
- Traição da cascavel numa alfombra tranqüila –
Principia a silvar com silvos de serpente.

Por toda a parte a larga escuridão se anima
Desse leve rumor que espalha a morte, e si
Do chão e voa, ou vem rastejante, ou, de cima,
Salpicado, vivaz como um granizo, cai...

Bruscamente borbulha em fantasmas a margem
Agitada do rio. O clarão da metralha
Responde à sombra. E de eco em eco a imensa vargem
Reboa de um fragor de guerra e de batalha.

Eis o caminho aberto ao triunfo e à conquista,
- Como a corça ferida escapa e foge em vão,
Deixando atrás, deixando úmida e fresca, a pista
De seu flanco rasgado e sangrando no chão.

Fugitiva e dispersa, a turba dos vencidos
Atrai, guia, conduz para a tribo distante,
Para a perdida paz de seus lares traídos,
A guerra, o cativeiro, a morte: o bandeirante.

Ferve a luta. De serra a serra voa o rouco
Som da inúbia, acordando ecos e legiões;
Ouriço monstruoso, o sertão, pouco a pouco
Todo se eriça das flechas de cem nações...

VI

Eil-as, as toscas naus de borda rastejante.
À flor das águas, naus de estreitos rios quietos;
Eil-as, prestes a abrir para o sertão distante,
Para assombros de glória, o seu vôo de insetos.

Apinhem-se na praia os velhos, derramando
De encarquilhadas mãos inúteis para mais
A bênção dos que já se sentem bruxuleando
Aos que lhes vão tornar os nomes imortais.

Mães, deixai que, sonhando, a vista embevecida
De vossos filhos pouse, e se ilumine, e aprenda
Nessa formosa folha em que o livro da vida
Tem estrofes de poema e proporções de lenda.
Noivas, com os corações envoltos na penumbra
Indecisa do amor que se orgulha e se doe,
Vinde trazer-lhes vosso olhar de que resumbra
Saudade pelo amante e enlevo pelo herói...

Ao largo, enfim! Clarins e buzinas atroam.
E as canoas, na luz da manhã cor de rosa,
Pairam por um momento em pleno rio; aproam
Para o sertão. E rompe a marcha vagarosa.

Nos barrancos, até rente d′agua investidos
De filhos a sorrir e de mães a chorar,
Lancem as frouxas mãos e os olhos comovidos
O derradeiro adeus e o derradeiro olhar...

VII

Longe, na solidão do campo undoso e verde,
O rio serpenteia. Em cada contorção
Mais se afasta. E a fugir, pouco a pouco se perde
No majestoso, vago, infinito sertão...

©VICENTE DE CARVALHO
In Poemas e canções, 1928

Extraído de:


Sobre o autor:









Porto das Monções

Pedro Bento e Zé da Estrada
Compositor: Pedro Bento

Pedro Bento - Porto Feliz das Monções - Obra Prima Cultural do Pedro Bento - Raridade.


Letra

Porto Feliz das bandeiras
De história e tradição
Dos heróis, dos bandeirantes
Do remoído varejão

Da bugrada e dos escravos
Dos enorme paredão
Porto Feliz das bandeiras
Das canoa e batelão

Canoeiros, canoeiros
Bandeirantes do sertão
Porto Feliz das bandeiras
De história e tradição

Nas margens do rio Tietê
Logo após o paredão
Nossa Senhora da Penha
Protegia a povoação

Na sua igreja modesta
Todo o povo em oração
Abençoa os que partiam
Lá pros confins do sertão

Canoeiros, canoeiros
Bandeirantes do sertão
Porto Feliz das bandeiras
De história e tradição

Eram muitos que seguiam
Naquela dura jornada
Do porto até Cuiabá
Às vezes em busca do nada

Morriam de fome e frio
Muitas vezes de emboscada
Pelos índios Guaianazes
Muitas vidas eram tiradas

Canoeiros, canoeiros
Bandeirantes do sertão
Porto Feliz das bandeiras
De história e tradição

Bandeirantes que lutavam
Desbravando o nosso chão
Nos lugares que paravam
Formaram povoação

Ensinando e educando
Civilizando o sertão
Foi pioneiro os bandeirantes
Nessa colonização

Canoeiros, canoeiros
Bandeirantes do sertão
Porto Feliz das bandeiras
De história e tradição

Sobre Os Artistas








Um comentário:

  1. Parabéns pelo site, meus antepassados foram monçoeiros, tempos difíceis de muito sofrimento,era preciso serem guerreiros de muita coragem.

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