Turismo & Cultura

Sumário

Riquezas Naturais




Obras Arquitetônicas




Eventos


Coisas Típicas




Diretoria De Cultura, Esportes E Turismo




Riquezas Naturais

Uma das atrações do Parque das Monções é o Paredão Salitroso - monumento natural formado por rocha salitrosa, calcário e arenito. Apresenta camadas sedimentares intrusivas. Ainda é objeto de estudo por sua origem indeterminada. Muitos especialistas afirmam que este sítio arqueológico abriga provas que a região esteve submersa há milhões de anos. Deu origem ao nome primitivo da cidade, Araritaguaba, de procedência indígena, que significa local onde as araras ou pássaros de bico curvo pousam para comer a pedra.


Obras Arquitetônicas
Sua construção teve início em 1750. O prédio, em estilo barroco, foi construído em taipa. As paredes do altar-mor são recobertas por azulejos pintados pelo artista italiano Bruno de Giusti. As pinturas retratam as principais passagens da história de Porto Feliz.









  • Endereço: Praça Dr. José Sacramento e Silva - Centro
  • Funcionamento: De segunda a sábado, das 8h às 11h e das 13h às 16h

Monumento Em Homenagem Aos 500 Anos Do Brasil
No ano 2000, Porto Feliz recebeu o Monumento dos 500 anos, em reconhecimento à importância da nossa história para a formação do país. O monumento possui a forma de um globo com a cruz portuguesa, representando as navegações de Portugal. Ele se encontra no centro da Praça Duque de Caxias, também conhecida como Largo da Penha.

Palco dos grandes movimentos mançoeiros - onde os bandeirantes se reuniam para organizar as monções - o Largo da Penha é o marco do início do povoamento de Porto Feliz. Ainda hoje, abriga várias construções da época. Entre elas, o velho casarão construído há cerca de 297 anos por mãos escravas, tendo paredes de 96 cm de espessura. Aí funcionou a antiga Casa da Alfândega, onde eram cobrados os tributos da riqueza conquistada nas Monções. Atualmente, abriga o tradicional restaurante Belini, onde é servido o prato típico da cidade: o cearense.
  • Endereço: Praça Duque de Caxias, 66 - Centro.


Crédito da imagem: Fábio Hasegawa




Inaugurado em 28 de outubro de 1878, foi o primeiro Engenho Central do Estado de São Paulo e o terceiro do país. Sua construção revolucionou a produção do açúcar em toda a região e contribuiu para consolidação de um importante ciclo da economia de Porto Feliz. Funcionou durante mais de um século como uma unidade de produção da Companhia União São Paulo. Sofreu diversas transformações e foi desativado em 1991.
  • Endereço: Rua Cesário Motta, 247 - Centro

Nos tempos da produção da cana da açúcar, a Fazenda Capoava funcionou como um extensão do engenho central, importante para o desenvolvimento da cidade. É uma grande vila, que possui muitos moradores e um grande número de jovens e crianças. Atualmente, a região se tornou ponto de visitação dos interessados no turismo rural.
Em 1910, foi construído no Largo da Penha um sobrado para servir de Fórum e Cadeia Pública. Todo acusado que era condenado em julgamento no andar superior (Fórum) só precisava dar alguns passos para chegar até a prisão, no térreo. Atualmente abriga a Guarda Civil Municipal.

A Guarda Civil Municipal de Porto Feliz foi criada em setembro de 1985 pela Lei Municipal nº. 2.678. A instituição é baseada no princípio da hierarquia e disciplina, seguindo as normas do Regimento Disciplinar desta corporação. Atualmente, a GCM conta com um efetivo misto de 69 componentes e garante o cumprimento do artigo 144 da Constituição Federal, destinada à proteção de todos os bens do município. Também atua no policiamento preventivo, colaborando de forma sintonizada e ativa com as Policias Civil e Militar, além de apoio em todos os eventos e ações promovidas pelo Governo Municipal. Na questão operacional, a GCM conta com diversos recursos materiais, como central de rádio transmissão e recepção, nove veículos caracterizados e equipados, um barco a motor para diligencias fluviais, escudos anti-tumultos, coletes anti-balísticos e armamento permitido por lei. Conta também com a Banda Musical “Edivaldo Rodrigues dos Santos”, que faz suas apresentações em eventos da guarda. Além da segurança patrimonial, a GCM atua em outras diversas situações que oferecem risco à população. A corporação trabalha em auxílio ao público, atendimento em acidentes de trânsito, rondas rural e escolar, apoios a fiscais da Prefeitura e ao Conselho Tutelar do Município, averiguação, patrulhamento, entre outros atendimentos relacionados ao bem estar dos munícipes Em 2013, a Guarda Civil Municipal atendeu 3502 ocorrências, Em 2014, até o mês de maio já foram realizadas mais de 1.379 ocorrências. Vários de seus guardas participaram de cursos de prevenção de uso de drogas, uso tático operacional de escudos em Controle de Distúrbios Civis, (CDC), além do curso tático operacional em Rondas Ostensivas Municipais (ROMU). Também participam ativamente de cursos promovidos pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). A Guarda Civil Municipal atende 24 horas por dia pelos telefones (15) 3262-1118 e 3262-3244.
Tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), o Parque das Monções está localizado à margem esquerda do rio Tietê, no local exato de onde partiam, no século XVII E XVIII, as expedições monçoeiras para as regiões auríferas recém descobertas nos estados de Mato Grosso e Goiás. É um espaço construído para a celebração da memória de um glorioso capítulo do bandeirismo paulista.


Foi inaugurado em 26 de Abril de 1920 pelo então governador de São Paulo, Altino Arantes. É composto por uma grande área verde, formada ao redor do antigo Porto de Araritaguaba, pelo Monumento aos Bandeirantes, por um Paredão Salitroso, pela Gruta Nossa Senhora de Lourdes e por uma grande escadaria que dá acesso ao Parque.
  • Endereço: Rua dos Bandeirantes, s/n.
  • Funcionamento: Diariamente das 8h às 18h.



A Gruta Nossa Senhora de Lourdes está localizada no Parque das Monções. Foi construída em homenagem a Nossa Senhora de Lourdes por dois sacerdotes franceses, Alexandre Hourdeau e Vitor Maria Cavron que perceberam semelhança entre o paredão aqui existente e a gruta francesa. Foi, originalmente, escavada no grande paredão salitroso, pela utilização de cargas de dinamite e inaugurada com uma missa pelo Monsenhor Domingos Magaldi, em 15 de Agosto de 1924, durante a tradicional festa da padroeira Nossa Senhora Mãe dos Homens. A construção contou com o apoio da população porto-felicense, que contribuiu com donativos. Em 2010, a gruta, réplica fiel da existente na cidade de Lourdes, na França, foi revitalizada pela Prefeitura Municipal.

Crédito da foto: Tripadvisor



Inaugurado em 26 de Abril de 1920, foi idealizado pelo historiador Afonso de Escragnolle Taunay, então diretor do Museu Paulista da Universidade de São Paulo e executado pelo escultor italiano Amadeu Zani. Construído em granito, na sua parte inferior é formado por um painel de alvenaria no formato de um semicírculo, que contém a reprodução em bronze de três importantes documentos iconográficos, o célebre quadro de Almeida Júnior "A Partida das Monções", o quadro "Benção das Canoas" de Hércules Florence, e "Largada de Porto Feliz" de Adrian Taunay. Na sua parte superior é formado por uma coluna rostral em mármore rosa, que contém uma esfera armilar, que é símbolo das Grandes Navegações Portuguesas.

Eventos

Sarau na Casa

O Sarau na Casa é um evento popular, sendo realizado mensalmente na Casa da Cultura "Narcisa Stettener Pires". Entrada franca. Sob a organização do grupo Sarau na Casa, com apoio da Prefeitura de Porto Feliz.





Dia Municipal do Rock José Antonio Bernardeli

Comemorado, anualmente, no final de semana do dia 13 de julho.
Instituído pela LEI Nº. 4.976 DE 10 DE AGOSTO DE 2011.

Fest Rock
Promovido anualmente em alusão ao Dia Mundial do Rock, comemorado em 13 de julho.

FELP - Feira Literária De Porto Feliz

Anual, ocorre no início do mês de agosto.
https://www.facebook.com/FELPortoFeliz/



Festival Literário De Poema E Prosa de Porto Feliz


Festa De Agosto


Semana Das Monções

De 7 a 13 de outubro acontece a Semana das Monções, a festa mais tradicional do município de Porto Feliz e um dos principais eventos da região. Criado com o objetivo de resgatar a história do desbravamento do Brasil, a Semana apresenta diversas atividades culturais e de lazer, com destaque para as encenações de momentos históricos, em que hábitos, indumentárias e meios de transporte da época são reconstituídos com total fidelidade pelos próprios moradores.

Miss Porto Feliz


Semana De Incentivo À Leitura
Ela acontece sempre na semana próxima ao Dia Municipal do Livro, comemorado em 29 de outubro.
A Semana de Incentivo à Leitura foi criada pelo prefeito Cláudio Maffei em julho de 2008, através da Lei Municipal nº 4.609.

Lei Nº 4.609 De 07 De Julho De 2008 (Institui A Semana De Incentivo À Leitura, Conforme Especifica, E Dá Outras Providências):
http://www.portofeliz.sp.gov.br/cmsBusiness/upload/translin/f0629d93d80d762104aa7b1ca6281fb1.pdf

Coisas Típicas

Cearense
(Extraído de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_Feliz#Prato_Tipico)

A cearense surgiu na década de 70 n, por quatro pescadores da cidade em uma de suas pescarias em Mato Grosso. Depois de alguns dias, os pescadores ja quase sem comida receberam a notícia de que mais pescadores se juntariam a eles. Um deles foi para uma cidade nas proximidades para comprar mais mantimentos. Mas a caminho da cidade parou algumas vezes para descansar, assim acabou chegando tarde a cidade pois quase todos os estabelecimento estavam fechados, acabou achando apenas um armazém, a onde comprou 1 kg de cebola, 1 kg de tomate e 2 kg de carne de Boi. Chegando ao acampamento resolveu cozinhar tudo que tinha sobrado, feijão e algumas coisas a mais. Saiu um prato muito saboroso. Assim acarretando um comentário do Sr. Emilio Coli, ele diz que aquilo que eles tinham feito parecia comida "de cearense". Voltando a Porto Feliz, os pescadores passaram as suas esposas, a receita, elas acrescentaram ainda ao prato, bacon, Linguiça Calabresa, Louro, Cheiro-verde e orégano. Assim dando a inicio a tradição. Foi muito elogiado por não ser tão forte quanto a feijoada e ainda para esquentar nos dias frios.



Do improviso à tradição: a história do prato Cearense
Publicado: Quinta-feira, 20 de janeiro de 2011 por Gustavo Moreno
  

Aprenda a fazer esta delícia da cidade de Porto Feliz.
Gustavo Moreno / www.itu.com.br

A partir do improviso, um grupo de pescadores de Porto Feliz iniciou uma tradição muito saborosa na cidade. A Cearense, prato a base de feijão e carne de boi, foi criada por volta de 1950 e, de lá para cá, vem se popularizando cada vez mais. Hoje, o município é um dos poucos no Brasil com um prato típico reconhecido, integrando um projeto de lei municipal.

História
Nas décadas de 1950 e 1960, havia em Porto Feliz o Clube de Pesca. Nele, famílias e amigos juntavam-se para passar o final de semana. Numa tarde de domingo, um grupo de pescadores, formado por Emílio Coli, Zequinha Lisboa, José Alcalá e Humberto Martelli, foram até o armazém da cidade, pois os mantimentos que levaram para a pesca não eram suficientes. Com poucas opções, o dono do estabelecimento ofereceu a eles carne de peito de boi, tomate e cebola.
De volta com os ingredientes, eles resolveram cozinhar tudo junto com o pouco de feijão que sobrara. A mistura, quando pronta, suscitou o comentário “parece comida de cearense”, nomeando o prato de forma irreverente.
Não demorou para que a receita se espalhasse e caísse no gosto da população. Mais tarde, restaurantes tradicionais do município passaram a reproduzir a receita, cada um a sua maneira. Os ingredientes originais foram mantidos e outros foram acrescentados para compor o prato como é conhecido hoje.
Em março de 2008, um projeto de lei foi sancionado a fim de reconhecer a Cearense como o prato oficial de Porto Feliz. Feita a partir da carne de boi, e não de porco. A receita é mais leve do que a feijoada, mas não perde sua brasilidade e nem o sabor, sendo um dos deliciosos atrativos turísticos da cidade.

Aprenda a fazer a Cearense
O cozinheiro do Cassiu's Restaurante, Anderson Aparecido de Oliveira, e a proprietária do estabelecimento, Sandra Maria da Silva Borin, ensinam como fazer a Cearense de forma rápida e simples. Confira a receita abaixo:

Ingredientes:
  • 1kg de peito de boi (em cubos)
  • 1kg de feijão carioquinha
  • 1kg de tomates maduros (picados)
  • 1kg de cebolas (picadas)
  • 1kg de linguiça calabresa (picada)
  • 500g de bacon (em cubos)
  • Cheiro verde; louro; sal para temperar


Modo de preparo
Reserve uma panela com água fervendo. Numa outra maior, coloque um pouco de alho para refogar e depois acrescente o bacon para fritar. Após um tempo no fogo, coloque a linguiça calabresa, espere ela refogar e depois coloque a carne. Em cada etapa, você deve misturar os ingredientes para que eles fritem de todos os lados.
Depois, acrescente a cebola e o tomate picados na panela e mexa bem. Se quiser, você pode incrementar a mistura com o sal e as folhas de louro. Por último, você irá colocar o feijão e despejar a água fervendo por cima de tudo. Mexa bem e tampe. O tempo de cozimento é, em média, de duas a três horas, dependendo da altura do fogo. O ponto correto é quando o feijão amolecer.
Na hora de servir, a cearense acompanha arroz branco, couve refogada, farinha e polenta. Outras versões do prato acrescentam ainda pimenta para esquentar o sabor. Bom apetite!






O VIRADO PAULISTA
Carlos Borges Schmidt

(Schmidt, Carlos Borges. "O virado paulista". Diário de São Paulo, 21 de junho 1959)


Em seu excelente ensaio histórico sobre as monções que, a partir do primeiro quartel do século XVIII, marcaram uma nova etapa na história pátria, Sérgio Buarque de Holanda dedica especial atenção às questões relacionadas com a alimentação dos monçoeiros. Dura pena sofreram aqueles paulistas bem como gente de outras plagas que se aventurou Tietê abaixo, fosse espontaneamente em direitura às minas auríferas, de pouco descobertas no Cuiabá, fosse, mais tarde, compulsoriamente em rumo a praça forte de Nossa Senhora dos Prazeres de Iguatemi, cemitério de paulistas, criado, e por muito tempo mantido pelo Morgado de Mateus, capitão-general de São Paulo nos confins das terras lusas com as do Paraguai.

Lembra aquele autor que, a bordo das canoas "a farinha tinha em muitos pontos, papel semelhante ao que desempenhara o famoso biscoito das galeras nas antigas viagens ultramarinas. Farinha de milho principalmente, se é verdade que a mandioca só começa a ser cultivada, em escala apreciável, no planalto, em fins do século XVIII que o produto conduzido a bordo, durante o mesmo século, provinha, sobretudo, dos distritos de Itu e Araritaguaba, onde sempre foram numerosas as roças de milho" [1]. Mas não era a farinha de milho alimento exclusivo. Pelo contrário, ela era complementada pelo feijão e pelo toucinho de porco. Dessa ração monçoeira, por assim dizer, aquele autor refere-se a informações contidas em publicações de documentos antigos, que registram a seguinte ração individual, para cálculo dos suprimentos necessários durante as longas jornadas; cento e quinze gramas de toucinho por dia; nove litros de farinha de milho por dez dias e quatro e meio litros de feijão pelos mesmos dez dias [2]. Essa a ração atribuída, indistintamente a mareantes e passageiros [3]. Sistematicamente, obedeciam à mesma rotina, o preparo das refeições, dias após dias. "Antes do pôr-do-sol, costumavam os homens arranchar-se e cuidar da ceia, que constava principalmente de feijão com toucinho, o panem nostrum quotidianum dos navegantes, segundo expressão de um deles, além da indefectível farinha de milho ou de mandioca), e algum pescado apanhado pelo caminho" [4].

A tal ponto se integrara no regime alimentar paulista o virado de feijão que, diz-se, o próprio dom Pedro, por razões óbvias, em uma de suas visitas a São Paulo, comeu à moda da terra, em banquete público, feijão preparado com toucinho e farinha [5].

Em introdução aos Relatos monçoeiros faz o saudoso mestre Afonso de Escragnolle Taunay, um apanhado dessa característica invariável dos hábitos alimentares de então. "O virado paulista de feijão era o grande recurso dos monçoeiros; a famosa mistura de feijão preparado com toucinho e farinha. A farinha de milho predominava muito sobre a de mandioca. No aprovisionamento das monções vemos sempre figurar esse elementos essenciais. Os alqueires de farinha de milho eram sempre um pouco mais que os de feijão o número destes determinava outro idêntico de arrobas de toucinho. A predominância da farinha de milho sobre a de mandioca era em geral muito acentuada. Mas isso não era regra sem exceção, pois na monção de Rodrigo César de Menezes, em 1726, foram embarcados cem alqueires de farinha de mandioca e 150 da de milho, para 65 de feijão e 23 de trigo" [6]. É evidente que, quando havia exclusivamente farinha de mandioca para comprar, ao serem armadas as monções, não prevalecia dúvida alguma. Abasteciam-na com farinha da famosa raiz. Mas o costume mesmo era farinha de milho, não apenas para o aprovisionamento inicial, como porque, durante a viagem, por ali ou por outras rotas bandeirantes, era mais fácil de ser encontrada pronta, ou prepará-la quando não existia disponível. E, no caso presente, explica-se, também, pelo fato de ser Rodrigo César de Menezes recém-chegado de outras plagas, talvez já habituado à farinha de mandioca e, ainda, com o seu paladar não identificado com a farinha paulista.

Ao longo da rota monçoeira, espalhavam-se pequenas roças de milho e feijão, para vender aos navegantes. Também capados e galinhas. Da viagem que fez às minas de Cuiabá, em 1727, o capitão João Antônio Cabral Camelo deixou um relato onde se pode avaliar a disposição de tais postos de eventual reabastecimento. Dia e meio de viagem, abaixo da barra do rio Piracicaba, encontravam-se dois moradores, com roças de milho e feijão, além de porcos e galinhas, para vender aos que passavam, de ida ou de volta de Cuiabá. Dali ao rio Paraná, iam doze ou treze dias de navegação. No rio Paraná, abaixo da barra do rio Verde estavam dois outros roceiros, com suas plantas de milho e feijão em abundância e que vendiam pelo preço que desejassem; a primeira destas duas roças, situada na margem esquerda, possuía uma capela em honra de São Bom Jesus. Depois de transposto o varadouro de Camapuã, rodados o Coxim e o Taquari, entravam no rio Paraguai e, logo adiante, alcançavam a barra do rio Cuiabá.

Daí para cima, ao quarto ou quinto dia se chega ao Arraial velho, ou registro, que vem a ser uma roça com muito bom bananal; dia e meio acima desta roça está outra, também povoada, e desta até aos Morrinhos, que serão sete ou oito dias de viagem, a outras duas que dão bastante milho e feijão; porém, dos Morrinhos até a vila, que são seis ou sete dias, quase todo este rio está cercado de roças e fazendas, como também quatro ou cinco acima da mesma vila (Cuiabá) e em todas se plantam milho e feijão, em os dois meses do ano março e setembro, dão, também, excelente mandioca, de que se faz farinha" [7].

Tendo lá permanecido algum tempo, regressou o capitão Cabral Camelo. Partindo de Cuiabá, com 14 dias de viagem chegou à primeira roça situada no rio Taquari. Insegura a vida e incerto o destino daqueles roceiros solitários e destemerosos. Continuando o trajeto, chega a roça do Caijuru: passa em seguida o salto do Corau e o Nhanduí-mirim, encontrando as roças todas despovoadas. É que os roceiros tinham sido mortos pelos índios Caiapós. Abaixo do Caijuru existia gente nas roças. Chega ao Nhanduí e, no dia em que parte dali, parte também o roceiro, amedrontado com as correrias da indiada.

Abaixo do Nhanduí estavam também despovoadas as roças como também a primeira situada no rio Paraná. Na outra, pouco mais acima, estava lá apenas um único homem. No Tietê, abaixo da foz do Piracicaba, existiam quatro roças com gente e muitas outras despovoadas. Entre este ponto e Itú existia apenas uma única roça. Entretanto, nas quatros últimas léguas para chegar à vila de Araritaguaba, estava bem povoada a região marginal do Tietê [8].

Mas o capitão Camelo, sete anos mais tarde, em 1734, faz nova viagem a Cuiabá, de onde retornou a pé, curtindo duras penas. Como é óbvio, não podia um pedestre transportar os gêneros necessários ao consumo normal durante a extensa caminhada, tal como viajando embarcado. E o feijão faltava; a farinha era pouca; o toucinho escasso. Sacrifício imenso, "porque o feijão, que era todo o nosso regalo, não se pode carregar todo o necessário, e, assim, não comíamos mais que um pouco de angu, que se fazia para os negros e brancos de uma pouca farinha com algum toucinho derretido, ou desfeito em água; em Camapuã não foi menor a miséria, que o Caiapó nos queimou a rancharia; etc." [9]. A fazenda do Camapuã, situada no divisor de águas Paraná-Paraguai, entre as cabeceiras do Pardo e do Coxim, era por onde varavam as canoas; por terra e, principalmente, onde se refaziam as reservas alimentares das expedições. A situação era essa. De vez em quando, a bugrada dava em cima daqueles roceiros isolados, e, de um ano para o outro, ou entre a ida e a volta, os viajantes já não encontravam recursos onde e de que tinham-se valido na passagem anterior.

Em meio ao terceiro quartel do século XVIII, ou melhor, no ano de 1769, uma importante monção foi despachada em rumo à praça forte de Iguatemi, nas lindes paraguaias. Comandava-a Teotônio José Juzarte. Desde os preparativos em Arantaguaba (Porto Feliz), o responsável pelo sucesso da viagem em que iam cerca de oitocentas pessoas multiplicava-se em providências indispensáveis, em cuidados e planos de toda espécie, inclusive e principalmente, naqueles referentes à alimentação. "O mantimento de que se fornecem estas embarcações para a viagem não excede a feijão, farinha de mandioca ou de milho, toucinho e sal, que é o cotidiano sustento, exceto alguma caça, ou peixe, se o há". Mas necessário era prever a quantidade de cada um dos gêneros em função do número dos que integravam a monção e o tempo que seria consumido na viagem. E inclusive o acondicionamento. "Este mantimento, feita a conta do que se precisa para cada canoa, durante a viagem, se acomoda em sacos cilindrados que tem um pé de diâmetro e cinco ou seis de comprido esta figura é a que convém para se acomodarem melhor, pelo seu comprimento e pouco diâmetro". Em seguida Juzarte anota o sistema de alimentação quanto ao horário e condições do alimento. "Durante a dita viagem se costuma cozinhar à noite, o que se há de comer no outro dia, e porque não se pode acender fogo ao jantar, come-se frio o feijão que ontem se cozinhou" [10].

E lá se foi a expedição rio abaixo. Desceu o Tietê, rodou o Paraná. Com quarenta dias de viagem alcançava a barra do Iguatemi. Era já dolorosa a situação dos expedicionários, no que tangia à alimentação. Porque sofrimentos de outra natureza já tinham principiado no mesmo dia, ou de véspera, da partida do porto monçoeiro. "Nesta altura – dizia – Juzarte – já se não perdoava a macaco, capivara ou outro qualquer bicho, para se comer, porque a ração se diminuía, e a fome apertava, a farinha já ia corrupta pelas umidades, e essa pouca, o feijão também pouco, podre, e já nascendo por conta das muitas umidades, toucinho quase nenhum, nestes termos, além dos muitos enfermos que já tínhamos cuidávamos em abreviar a jornada" [11]. A coisa era assim: difícil com bastante feijão, toucinho e farinha de milho; horrorosa sem aqueles alimentos.

Na travessia do lago Xaraes, em viagem realizada por volta de 1786. Lacerda e Almeira durante sete dias, passou "com um pouco de farinha de milho e marmelada, já ardida que de São Paulo vem para todas as Minas para negócio, etc." E mais adiante ao entrar no rio Paraguai, vindo de Cuiabá, dá o seu testemunho sobre a valia do complexo alimentar bandeirante. "Vi então, por experiência própria que o melhor guisado do mundo, e o mais inocente, é o feijão e toucinho pouco cozidos. Este é o bom efeito da sobriedade" [12].

Um dos primeiros testemunhos, no século XIX, da alimentação à base do virado paulista foi Mawe sem dúvida. "A alimentação usual dos habitantes é a seguinte: para o almoço, uma variedade de leguminosa chamada feijão cozido, e depois misturado com farinha de milho; para o jantar, feijão cozido com carne de porco gordo, e algumas folhas de repolho, uma espécie de pirão feito com caldo de carne de porco derramado num prato de farinha sendo comido com a mão, que é muito apreciado para a ceia, umas pobres hortaliças também cozinhadas com porco" [13]. Estava o autor da viagem pela zona de Cantagalo, na província fluminense. Esse comer com a mão, a que Mawe se refere deve ser pelo processo de fazer "capitão", juntando farinha ao virado até que seja obtida a consistência necessária para manter íntegro um pelote de virado feito com as pontas dos dedos, sobre o prato, para tornar possível leva-lo à boca. É o que ouvi contar, na minha infância, sobre como "os antigos faziam".

Voltemos às monções cuiabanas. Hercules Florence registrou, no relato de sua viagem fluvial até o Amazonas, em 1826, o ritmo das refeições diárias. "Navegamos todo o dia parando só para tomar refeição. De manhã, nossa gente almoçava farinha de milho desmanchada em água fria e açucarada. Ao meio-dia abicava-se para jantar. Comia-se a essa hora um prato de feijões feito de véspera com toucinho e que, depois de aquecidos, misturam-se com farinha de milho" [14]. Feijão e farinha e toucinho também não deviam faltar nas monções. Quando bem calculadas as necessidades, o que levavam bastava, até arribarem em local de reabastecimento, se tudo corria bem, sem atrasos inesperados. E nas viagens para Cuiabá, e além, as grandes expedições possuíam parece, um único grande centro de reabastecimento: Camapuã. "Como de Porto Feliz – comprova-o Hercules Florence – partíramos levando a quantidade de farinha de milho necessária para a viagem até Camapuã, a fim de não carregar demais as canoas, tivemos que encomendar 120 alqueires de farinha foi toda batida a poder de braço, nos simples pilões de uso doméstico.

O velho hábito do feijão com farinha de milho cristalizou-se no complexo alimentar de nossa população rural. Na penúltima década do século passado. Ina Von Binzer, jovem professora alemã que ensinou filhos de fazendeiros paulistas e fluminenses, de uma fazendo do estado do Rio de Janeiro, próximo ao de São Paulo, mandava contar, em carta a uma sua compatriota, entre as muitas coisas que aqui ocorriam, que andava "namorando a farinha de milho e a de mandioca que vem à mesa em cestas de pão e que os brasileiros misturam com feijões cheios de caldo, etc." [16]. Até ao paladar de uma jovem professora germânica completamente desabituada a coisas que tais, acabou sabendo bem o nosso feijão com farinha. E alguns torresminhos misturados...


Notas:
1. Sérgio Buarque de Holanda, Monções. Rio de Janeiro. 1945, p.186.
2. Departamento do Arquivo do Estado, Documentos interessantes, v.7, São Paulo, p.46
3. Sérgio Buarque de Holanda, op. cit., p.195
4. Sérgio Buarque de Holanda, op. cit., p.186
5. Sérgio Buarque de Holanda, op. cit., p.187
6. Afonso de E. Taunay, Relatos monçoeiros, São Paulo
7. Afonso de E. Taunay, op. cit., p.115-122
8. Afonso de E. Taunay, op. cit., p.132
9. Afonso de E. Taunay, op. cit., p.133
10. Afonso de E. Taunay, op. cit., p.219
11. Afonso de E. Taunay, op. cit., p.252
12. Francisco José de Lacerda e Almeida. "Diário de viagens de..." São Paulo. 1841, p.66
13. John Mawe, Viagem ao interior do Brasil, Rio de Janeiro, 1944, p.129.
14. Hercules Florence, Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas, São Paulo, 1948, p.96
15. Hercules Florence, op. cit., p.106
16. Ina Von Binzer. Alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil, São Paulo, 1946, p.27.


(Schmidt, Carlos Borges. "O virado paulista". Diário de São Paulo, 21 de junho 1959)

Diretoria De Cultura, Esportes E Turismo

Arquivo Histórico Municipal 'Sérgio Buarque de Holanda'


O Arquivo Histórico Municipal “Sérgio Buarque de Holanda” (Porto Feliz/SP) foi inaugurado em abril de 2000 para abrigar a documentação histórica do município. A maioria do acervo se compõe de documentos provenientes do Poder Legislativo (Livros Eleitorais, Atas de Sessões, Projetos de Lei, Decretos – séc. XIX e XX) e Executivo(Registros Orçamentários, Financeiros, Impostos e Taxas da primeira metade do século XX). Há também cartas, ofícios, recibos, documentos que retratam o cotidiano da comunidade, certidões de óbito, Registros Militares, Documentação Escolar, periódicos, plantas arquitetônicas, documentos cartográficos, Registros Comerciais, documentos de valor histórico e curiosidades.
Você tem fotos antigas e documentos que gostaria de compartilhar conosco? Quem quiser colaborar com o acervo do Arquivo Municipal Sérgio Buarque de Holanda, poderá enviar fotos e/ou documentos aqui mesmo pelo Facebook (inbox) ou, se preferir, vir até o Arquivo e trazer o material. Será feito uma reprodução por imagem e, em seguida, a devolução do material.



Biblioteca Pública Municipal "Dr. Cesário Motta Júnior"
Antiga Estação Sorocabana
Sua construção, em estilo inglês, data de 1920. A Estrada de Ferro Sorocabana foi desativada em 1960. Restou o prédio da antiga Estação.



O prédio é a sede da Biblioteca Pública Municipal "Dr. Cesário Motta Jr.", mas atualmente está em reformas e a Biblioteca está funcionando em novo endereço, provisório:
 Rua Othoni Joaquim de Souza, sem número, Centro (Vizinha da PortoPrev e CPFL, próxima da Câmara Dos Vereadores).

A Casa da Cultura "Dona Narcisa Stettener Pires" está instalada num típico exemplo da arquitetura urbana de Porto Feliz do inicio do século XIX, construído originalmente em taipa de pilão e pau-a-pique.

  • Endereço: Rua Tristão Pires, 123 - Centro
  • Funcionamento: De segunda à sexta-feira, das 8h às 11h e das 13h às 17h.
  • E-mail: casadacultura@portofeliz.gov.sp.br
  • Telefone: (15) 3262-4788



Escola Municipal de Música "Romário Antônio Barbosa"
A Escola foi criada no ano de 1989, para atender a uma demanda de alunos que, até então, tinham de sair da cidade em busca de cursos na área de música.


Estação Cultural Assumpta Luzia Marchesoni Rogado” (Estação das Artes)

Construída em 1919, destinou-se, durante cerca de 40 anos, ao armazenamento tanto das cargas que chegavam a Porto Feliz como das que saiam.


O Museu Histórico e Pedagógico das Monções abriga um rico e diversificado acervo com documentos, mapas e livros sobre as monções e a história da cidade. O prédio tem aproximadamente 160 anos. Em 1846, o casarão teve seu dia de glória: em 22 de março, tornou-se "Casa Real", ao hospedar Sua Majestade o Imperador D. Pedro II. Abrigou também o então Barão de Caxias. A partir de 1965 passou a abrigar o Museu das Monções.
  • Endereço: Praça Coronel Esmédio, s/nº - Centro
  • Encontra-se fechado para restauro.




Fontes:
"Informações Turísticas", do site da Prefeitura de Porto Feliz (http://www.portofeliz.sp.gov.br/content.php?t=content&id=220&idm=220)
   

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